A decisão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) de revisar sua estratégia de atuação no Porto de Santos, um dos principais canais de escoamento do tráfico internacional de drogas no Brasil, marca um novo capítulo na luta contra o crime organizado. Após uma avaliação detalhada, que identificou ações de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), a agência optou por limitar a presença física de seus agentes no complexo portuário, um movimento que reflete a complexidade dos desafios enfrentados.
Ligada ao Ministério da Casa Civil, a Abin desempenha um papel crucial na provisão de informações estratégicas para o apoio à Presidência da República e seus ministros, especialmente em assuntos relacionados à segurança do Estado e da sociedade. O Porto de Santos, por sua relevância estratégica e crescente incidência de apreensões de drogas e armas, tornou-se um foco de atenção para a inteligência nacional.
Fontes ligadas a órgãos investigativos revelaram ao Metrópoles uma redução na atividade da Abin no local desde o último ano. A interação cotidiana com entidades como a Polícia Civil, a Polícia Federal e a Receita Federal sugere uma estratégia de colaboração, embora mais distante fisicamente. Em novembro, o porto entrou no radar da operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), uma iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para combater diretamente as facções.
Informações colhidas em 2023 durante uma missão de investigação revelaram a extensão do tráfico de drogas e casos de corrupção no porto. Apesar das discussões iniciais sobre ampliar a atuação da Abin no local, decisões subsequentes do governo levaram a um desengajamento progressivo dos agentes, notado por instituições que operam no porto.
Em resposta a questionamentos sobre essa estratégia, a Abin esclareceu que “a Superintendência Estadual São Paulo permanece como a unidade responsável pela assessoria de inteligência a nível estadual, mantendo o Porto de Santos dentro de seu escopo de atuação”.
O Porto de Santos, o maior da América Latina, é considerado um dos pontos mais estratégicos para operações de inteligência devido aos altos índices de criminalidade organizada e seu impacto significativo na economia e segurança nacionais. Ações recentes da Polícia Federal, incluindo a incineração de 2,4 toneladas de drogas apreendidas no porto, sublinham a gravidade da situação.
A inteligência é vista como uma ferramenta vital na luta contra o crime organizado na área, proporcionando ao governo federal insights valiosos sobre questões sensíveis como impactos ambientais e econômicos de mudanças no porto, incluindo concessões e possíveis privatizações.
A Abin também promoveu um evento na região, destacando a importância de relatórios de inteligência sobre infraestrutura portuária e o combate a facções. A reunião contou com a participação de empresários locais, representantes da Polícia Federal e da Receita Federal, ressaltando o papel da inteligência como um recurso chave no enfrentamento ao crime organizado.
Apesar dos desafios, incluindo questões salariais e de preenchimento de cargos destacadas pela União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis), a redefinição da estratégia de inteligência no Porto de Santos sinaliza um compromisso contínuo em adaptar-se às complexas realidades do tráfico e crime organizado, mantendo-se firme na proteção dos interesses nacionais.