Após um período de três anos de estabilidade econômica, o setor agrícola brasileiro enfrenta um revés significativo. A receita média obtida com a cultura de soja registrou uma queda abrupta de 33% em relação à safra passada, marcando uma nova realidade com preços inferiores a R$ 100 por saca. Este cenário preocupante é agravado por custos de produção em alta e uma notável diminuição da produtividade na safra atual.
Neste contexto desafiador, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) divulgou uma nota na sexta-feira (9), expressando sua preocupação com o panorama enfrentado pelos sojicultores do país. A entidade recomenda precaução e uma gestão cuidadosa nas operações comerciais futuras, tendo em vista as adversidades do mercado.
A estreia da safra 2023/2024, embora promissora, sofreu severamente com as adversidades climáticas, levando a prejuízos consideráveis em diversos estados brasileiros. Informações do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), datadas de 11 de janeiro, revelam que a lucratividade da soja está em risco, especialmente com a cotação estagnada em R$ 100 por saca e uma produtividade esperada de 50 sacas por hectare. Em locais como Sorriso (MT), onde o preço oscila em torno de R$ 94 por saca, as perdas são tangíveis, chegando a R$ 122 por hectare.
Com apenas 20% da produção nacional colhida até o momento, antecipa-se que as dificuldades persistirão, exacerbadas por doenças prevalentes e condições meteorológicas desfavoráveis. A Aprosoja estima uma produtividade média de 49 sacas por hectare no Mato Grosso, sinalizando um cenário ainda mais complexo para os produtores.
A recomendação da Aprosoja aos agricultores é de cautela, aconselhando contra vendas precipitadas e desencorajando aquisições imediatas, especialmente de fertilizantes, cujos preços elevados nas últimas safras comprometem significativamente a viabilidade econômica. A entidade também desaconselha investimentos em expansão de área ou em insumos agrícolas, como sementes e defensivos, até que o mercado mostre sinais de recuperação.
Projetando um déficit de 2,8 milhões de toneladas no estoque final, mesmo considerando a importação de 600 mil toneladas de soja, a Aprosoja destaca a gravidade da situação. O consumo interno estimado em 56,8 milhões de toneladas e as exportações previstas em 98,4 milhões de toneladas, somados aos estoques iniciais de 3,5 milhões de toneladas, não são suficientes para reverter a tendência de declínio, colocando em xeque a sustentabilidade do setor no atual cenário econômico e climático.