Por Redação Mundo
A vida de Noriega — que se encontrava internado em um hospital desde março de 2017 após operar-se de um tumor cerebral — foi uma permanente fuga para frente. Faleceu em 29 de maio de 2017.
Considerado um militar sem escrúpulos, pôde relacionar-se simultaneamente com o chefe do tráfico colombiano Pablo Escobar, o líder cubano Fidel Castro e com múltiplos serviços de inteligência.
Em meio a essa carreira houve opositores assassinados, fortunas duvidosas, condenações por narcotráfico, uma invasão militar e denúncias de traições repetidas.
"O mais marcante na vida de Manuel Antonio Noriega é que ele fez da instituição (militar) um instrumento, uma combinação macabra entre o crime e o narcotráfico", disse à Agência France-Press o general Rubén Darío Paredes, a quem o ex-ditador substituiu em 1983 na Guarda Nacional.
Ascensão ao Poder
Nascido na capital panamenha em 11 de fevereiro de 1934 no seio de uma família humilde, Noriega abraçou muito jovem a carreira militar e chegou a dirigir o Panamá com mão de ferro entre 1983 e 1989.
Após participar em 1968 de um golpe contra o presidente Arnulfo Arias, sua ascensão se tornou meteórica quando, um ano depois, o histórico governante do Panamá, o general Omar Torrijos, o colocou à frente do serviço de inteligência G-2.
Suspeita-se que foi nessa época que a CIA, onipresente no Panamá para vigiar o Canal, recrutou Noriega, que consolidou seu poder após a morte de Torrijos em 1981 em um misterioso acidente aéreo.
Em 1983 acessou o comando da extinta Guarda Nacional e começou seu governo de fato. Eram as épocas de glória, quando vivia com sua esposa Felicidad e suas três filhas (Sandra, Lorena e Thays) em uma suntuosa mansão que incluía um minizoológico, cassino privado e salão de baile.
Em um contexto de guerras civis na América Central, "Cara de Abacaxi", como o chamavam seus opositores pelas abundantes marcas que a acne lhe deixou, jogou em várias frentes para se manter no poder.
Tudo Mudou
Mas tudo iria mudar e, de aliado fiel dos Estados Unidos, passou a ser um inimigo vinculado ao narcotráfico, após a chegada à Casa Branca de George Bush (1989-92), ex-diretor da CIA.
Em 1986, um vazamento da inteligência americana levou o jornal The New York Times a apontar o papel de Noriega no assassinato, em 1985, do opositor Hugo Spadafora.
Noriega sempre negou ter participado de crimes: "Sob o nome de Deus, não tive nada a ver com a morte de nenhuma dessas pessoas. Sempre houve uma conspiração permanente contra mim, mas estou aqui de frente, sem covardia", disse.
O coronel Roberto Díaz Herrera, ex-chefe do Estado-Maior panamenho e segundo do regime, o acusou de corrupção, fraude eleitoral e do acidente que custou a vida de Torrijos.
"Noriega deixa uma mancha escura. É muito difícil falar bem dele. Foi algoz de muita gente, mas também foi vítima da CIA", disse Díaz Herrera à agência francesa.
Essas acusações desencadearam protestos e um clima de instabilidade social, o que fez com que Estados Unidos lhe exigisse abandonar o poder, ao que o general se negou com facão na mão.
A Invasão
Em 20 de dezembro de 1989, na chamada "Operação Causa Justa", tropas americanas invadiram o Panamá para capturá-lo, o que provocou a morte de milhares de civis na que foi a última operação desse tipo de Washington na América Latina.
Após vários dias refugiado na Nunciatura e sob o estrondo de música rock que não suportava, rendeu-se em 3 de janeiro de 1990 e foi levado prisioneiro aos Estados Unidos, onde recebeu uma condenação de 40 anos de prisão por narcotráfico, embora tenha cumprido 21 por "boa conduta".
Extradições e Fim
Posteriormente, foi extraditado à França em 2010, onde foi condenado a sete anos por lavar três milhões de dólares em bancos franceses para o cartel de Medellín.
Noriega foi definitivamente extraditado a seu país em 2011. Chegou em cadeira de rodas, envelhecido, doente e "sem ódios nem rancores", segundo disse, para cumprir três condenações de 20 anos cada uma por desaparecimento de opositores.
Apesar de ter pedido perdão e ter sofrido vários acidentes vasculares cerebrais, complicações pulmonares, câncer de próstata e depressão, as autoridades panamenhas sempre lhe negaram a possibilidade de cumprir suas condenações em casa.
Fonte: A Semana