No contexto atual do agronegócio brasileiro, a comercialização de soja não apresenta grandes volumes de novas vendas, mas isso não impediu que as exportações da oleaginosa continuassem a apresentar números expressivos. Segundo informações recentes divulgadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), apenas na primeira metade de fevereiro, o país embarcou quase 5 milhões de toneladas de soja, um número levemente inferior ao total do mesmo mês no ano anterior. Considerando os dias úteis restantes do mês, espera-se que mais cargas reforcem esses números.
Até agora, as exportações acumuladas de soja no ano superaram significativamente as do período correspondente em 2023, com um volume que ultrapassa 7,8 milhões de toneladas, gerando receitas que alcançam a marca de 2,224 bilhões de dólares. "Neste mês, as divisas geradas já somam 14,8 bilhões de reais, e com mais alguns dias úteis pela frente, é provável que nos aproximemos dos 17 bilhões. Isso apenas reitera o ritmo acelerado e o recorde de exportações para o início de ano, consolidando a soja como o carro-chefe da pauta exportadora brasileira", comenta um especialista do setor.
O gigante asiático permanece como o destino primordial da soja brasileira, mantendo a tendência de anos anteriores. Atualmente, o foco se volta para a dinâmica futura dessa relação e seu impacto na precificação do produto. "A China está adquirindo a soja gradualmente, evitando grandes influências sobre os preços em Chicago, com compras moderadas nos Estados Unidos. Sem essa pressão, o mercado tende a se orientar mais pelas finanças", analisa o consultor Brandalizze, evidenciando uma postura cautelosa do comércio chinês.
Os compradores chineses justificam suas ações com base nas compras realizadas nos picos da pandemia, quando foram forçados a adquirir a commodity a preços elevados devido à escassez global. "Com estoques bem abastecidos, eles agora podem se dar ao luxo de aguardar condições mais favoráveis. Contudo, é essencial que não permitam uma reversão drástica no mercado que afete adversamente os produtores", acrescenta Brandalizze.
Ele é enfático ao afirmar que a demanda por soja continua em ascensão. Neste cenário, preços abaixo de 11 dólares por bushel representam um alerta tanto para os produtores quanto para os consumidores chineses, podendo comprometer a viabilidade da produção futura. "Os produtores americanos, em particular, serão os primeiros a reagir a essas mudanças de mercado", destaca o consultor.
Apesar de uma quebra na safra deste ano, o Brasil desempenha um papel crucial na oferta global de soja, com uma parte significativa de sua produção destinada à China. "Isso garante que o abastecimento chinês permaneça estável. No último ano, as importações chinesas de soja brasileira atingiram um recorde, refletindo uma estratégia de manter os estoques regulados e aguardar uma oportunidade para se reposicionar no mercado", explica Brandalizze.
Com os chineses cobertos até maio, as compras atuais são planejadas para os meses seguintes, indicando que, no curto prazo, o país está bem suprido e avaliando as tendências do mercado.
Quanto à preferência entre Brasil e Estados Unidos, a escolha é clara: Brasil. Em 2023, as exportações brasileiras de soja para a China cresceram 29%, enquanto as americanas recuaram 14%. "Nos últimos cinco anos, o Brasil intensificou sua dependência das importações chinesas, o que contrasta com uma diversificação maior dos compradores pelos Estados Unidos, reduzindo sua vulnerabilidade aos movimentos do mercado chinês", aponta um estudo da Universidade de Illinois.
Esse cenário reflete não apenas a força do agronegócio brasileiro, mas também as dinâmicas complexas do comércio global de soja, onde condições climáticas, políticas comerciais e estratégias de mercado interagem para definir o fluxo dessa commodity essencial.