Uma pesquisa recente realizada pelo Citizen Lab, centro de estudos da Universidade de Toronto, lançou luz sobre uma complexa rede de mais de 100 sites de notícias falsos operando sob a influência direta da China em 30 países, incluindo o Brasil. Este projeto, batizado como “Paperwall”, revela uma tentativa sistemática do regime comunista de Pequim para moldar a opinião pública global em favor de suas políticas, atacando opositores e disseminando desinformação sobre temas críticos.
Intitulado “Paperwall: sites chineses que se passam por mídia local visam públicos globais com conteúdo pró-Pequim”, o estudo desvenda as técnicas de engenharia social e manipulação utilizadas para promover narrativas favoráveis ao governo chinês. Dentre os assuntos manipulados estão a origem da Covid-19, as tensões em Hong Kong e Taiwan, além de ataques direcionados a críticos do Partido Comunista Chinês.
A investigação teve início após revelações feitas pelo jornal italiano Il Foglio sobre a existência de seis sites de notícias locais propagando conteúdo chinês, que levaram à descoberta de uma operação muito maior. De acordo com o Citizen Lab, todos os sites identificados eram controlados pela Shenzhen Haimaiyunxiang Media Co., Ltd. (Haimai), uma empresa de relações públicas baseada em Shenzhen, fundada em 2019 e especializada na difusão de conteúdo em diversos idiomas.
Os sites da rede Paperwall mesclavam conteúdo legítimo com comunicados e artigos políticos alinhados a Pequim, atacando figuras como Li-Meng Yan e Li Hongzhi, do movimento Falun Gong. Além disso, reproduziam artigos da mídia estatal chinesa e veiculavam teorias conspiratórias, incluindo acusações contra os Estados Unidos de criar e vazar o coronavírus.
Notavelmente, a campanha se caracterizava pela remoção rotineira de conteúdo polêmico após sua publicação, uma estratégia para dificultar sua detecção e crítica. Alberto Fittarelli, autor principal do estudo, destacou o papel das empresas privadas na gestão dessas operações, indicando uma tendência crescente de desinformação por encomenda.
Entre as descobertas, sete sites direcionados ao público brasileiro chamaram atenção, hospedados no Brasil e com nomes genéricos que sugeriam uma cobertura local. Atualmente, esses sites estão fora do ar, e há recomendações para evitar seu acesso devido ao risco de vírus.
Este estudo do Citizen Lab lança um alerta sobre as sofisticadas campanhas de influência conduzidas pela China, utilizando o setor privado como fachada para suas operações. A prática, que camufla a desinformação em meio a conteúdo aparentemente inócuo, representa um desafio significativo para a integridade da informação global, sobretudo à medida que se aproximam eventos cruciais, como as eleições nos Estados Unidos em 2024.
A embaixada chinesa nos EUA criticou o estudo, defendendo a narrativa de que conteúdos pró-China são frequentemente etiquetados como desinformação, enquanto vozes contrárias são consideradas legítimas. Esta resposta evidencia a complexidade do debate em torno da liberdade de expressão e da manipulação midiática no cenário geopolítico atual.