A "Pedalada Pelada", ato que reuniu dezenas de ciclistas nus pelas ruas centrais de São Paulo no último sábado (9), dividiu opiniões e reacendeu o debate sobre os limites da liberdade de expressão e o uso do corpo como ferramenta de reivindicação.
De um lado, os adeptos do movimento argumentam que a nudez é uma forma de chamar atenção para a vulnerabilidade dos ciclistas no trânsito e para a necessidade de maior segurança nas vias. Afirmam que a ação é pacífica e visa conscientizar a população sobre a importância da bicicleta como meio de transporte sustentável.
Do outro lado, críticos do "nudismo político" o consideram uma forma de exibicionismo desnecessário e ofensivo, especialmente em um país com forte tradição religiosa como o Brasil. Argumentam que a nudez não contribui para o debate sobre segurança viária e que o foco deveria estar na busca por soluções concretas para o problema.
A "Pedalada Pelada" também reacendeu a polarização política no país.
Para a esquerda, adepta da "cultura do identitarismo", o protesto é mais uma oportunidade para promover a agenda progressista e atacar valores tradicionais. Argumentam que a nudez é uma forma de empoderamento e que a crítica ao movimento é fruto de "conservadorismo retrógrado".
Já para a direita, o ato é visto como um exemplo da "moral decadente" e da "esquerdização" da sociedade. Afirmam que a nudez em público é uma afronta à moral e aos bons costumes e que o movimento é uma "apologia à libertinagem".
Independentemente da posição ideológica, é importante ponderar sobre a efetividade da "Pedalada Pelada" como ferramenta de reivindicação.
É questionável se a nudez, por si só, seja capaz de gerar mudanças reais na política de segurança viária ou se apenas contribui para a banalização do corpo e para a exacerbação da polarização política.
Ao invés de se concentrar em espetáculos excêntricos, seria mais produtivo que os movimentos ciclistas se unissem em torno de propostas concretas para a melhoria da infraestrutura urbana e para a promoção da educação no trânsito.
Somente através do diálogo e da busca por soluções conjuntas será possível garantir a segurança de todos os que utilizam as vias públicas, sejam eles ciclistas, motoristas ou pedestres.
Em um país como o Brasil, marcado por profundas desigualdades sociais e pela falta de cultura de debate, é essencial que os movimentos sociais busquem formas de reivindicação que sejam respeitosas e construtivas, evitando a polarização e o radicalismo.
A "Pedalada Pelada", por mais que tenha gerado debate, não parece ser o caminho mais adequado para alcançar os objetivos de segurança e respeito que os ciclistas almejam.
É hora de buscar formas mais eficazes de diálogo e de ação política para construir um trânsito mais seguro e uma sociedade mais tolerante e plural.