O cenário para a próxima safra de milho no Brasil se mostra preocupante, conforme expresso em recente reunião em Brasília, convocada pelo Ministério da Agricultura e coordenada pelo secretário nacional de política agrícola, Nery Geller. Durante o encontro com representantes das Câmaras Setorais da Soja e do Milho, Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) e da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), alertou para um possível "apagão de milho no país" este ano.
A reunião teve como foco avaliar as perdas provocadas pela estiagem no sudeste e pelo excesso de chuvas no sul do Brasil. Barbieri destacou que, em Santa Catarina, as perdas na produção de soja e milho alcançaram cerca de 15% em comparação com a safra anterior, um índice que se alinha às perdas nacionais.
A situação do milho é particularmente crítica devido a desafios adicionais, como a estreita janela para plantio. O atraso no plantio da soja em Mato Grosso, principal produtor de milho safrinha do país, resultou em um período limitado para o cultivo subsequente do milho. Diante disso, há dúvidas quanto ao volume da safra brasileira de milho, essencial para o sistema agroindustrial de proteína animal, especialmente em estados dependentes de importação como Santa Catarina.
Além disso, a Faesc e outras entidades do agronegócio constataram a intenção de produtores do centro-oeste brasileiro em reduzir a área de plantio de milho em Mato Grosso, em função
do curto intervalo entre o plantio da soja e a preparação para o milho. Essa redução na área plantada pode agravar a situação do mercado de milho, afetando diretamente estados como Santa Catarina, que dependem fortemente da importação do grão.
A previsão para a safra de milho no Brasil, já considerando as adversidades climáticas e atrasos no plantio, é de cerca de 115 milhões de toneladas, uma queda significativa em relação aos 130 milhões de toneladas do ano anterior. Com 90% da safra de milho ainda por ser plantada e um consumo anual de 80 milhões de toneladas no país, a situação demanda atenção e ação imediata.
Os custos crescentes de insumos também foram tema central na discussão. Um relatório técnico do Ministério da Agricultura confirmou um aumento nos custos em comparação à safra anterior, criando um desequilíbrio financeiro para os produtores. Com os preços futuros projetados significativamente abaixo do ano passado, a viabilidade econômica das culturas de soja e milho está em risco.
A gravidade da situação é ampliada pelo baixo preço da soja, que atingiu valores historicamente baixos este ano. No Mato Grosso, a soja está sendo vendida abaixo de R$ 100,00 a saca, em contraste com os preços de até R$
200,00 a saca na safra anterior. Esse declínio nos preços, combinado com os custos elevados, coloca em xeque a sustentabilidade financeira dos produtores rurais.
Diante deste panorama desafiador, as entidades do agronegócio apelaram ao Governo Federal para a implementação de políticas agrícolas eficazes que possam mitigar a tendência de redução no plantio por uma grande parcela dos produtores brasileiros. Há uma demanda urgente por intervenções do Ministério da Agricultura, especialmente em Mato Grosso, para incentivar e apoiar o plantio de milho, garantindo aos produtores a segurança de que não enfrentarão perdas econômicas insustentáveis.
A Faesc e a Abramilho expressaram preocupação com a capacidade dos produtores rurais de absorver as perdas econômicas previstas, ressaltando a necessidade de medidas governamentais imediatas que ofereçam alívio e suporte ao setor.
Barbieri também apontou para uma distorção nos números governamentais em relação à soja, destacando discrepâncias entre as previsões da Conab e os levantamentos estaduais e de institutos independentes. Essa inconsistência nos dados impacta diretamente os preços de mercado, reforçando a necessidade de transparência e precisão nas informações divulgadas.
Neste cenário desafiador, a Argentina surge como um potencial parceiro do Mercosul para suprir as perdas brasileiras, com previsões de colheita significativamente maiores para milho e soja neste ano.
A atual conjuntura exige uma abordagem estratégica e medidas efetivas para assegurar a estabilidade e o crescimento do setor agrícola brasileiro, vital para a economia do país e para a segurança alimentar global.