Em um episódio que choca e entristece admiradores da cultura brasileira, o busto do túmulo do estimado escritor Nelson Rodrigues, falecido em 1980, foi furtado entre sexta-feira e sábado. Este lamentável incidente foi reportado pelos integrantes do grupo SOS Patrimônio, indicando um preocupante descaso com o patrimônio histórico e artístico do país. O monumento, antes localizado no cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, pesava cerca de 45 quilos e representava Rodrigues ao lado de uma máquina de escrever, um símbolo de sua imortal contribuição literária.
Marconi Andrade, um dos fundadores da SOS Patrimônio, expressou sua indignação com veemência: “Tem que ser cobrado uma segurança em torno do cemitério e da própria administração. Como é que some uma escultura deste porte? Não dá para jogar por cima do muro. Passa por algum lugar. É um descaso total com o patrimônio histórico e artístico.” Suas palavras ressoam o clamor por uma gestão mais rigorosa e uma proteção efetiva dos tesouros culturais da nação.
Este não é um caso isolado. Em novembro do ano passado, o mesmo cemitério foi palco do furto de uma estátua de bronze, medindo 1,60 metro, do túmulo de Cláudio de Sousa, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL). Este padrão de eventos sublinha uma preocupante tendência de negligência para com os símbolos da nossa herança cultural.
Marconi relembrou o furto anterior e enfatizou a urgência de reforçar a segurança no local, uma medida essencial para a preservação das obras que mantêm viva a memória do Brasil. Ele lamenta, “O Rio já foi considerado uma das cidades com mais monumentos do mundo, perdendo apenas para Paris. A arquitetura tumular está ficando sem nada. A nossa memória está indo para o ralo, porque quando é roubado, não volta.”
Nelson Rodrigues, cujo legado como um dos maiores nomes do teatro brasileiro, jornalista e dramaturgo é inquestionável, ingressou no GLOBO em 1931. Após um intervalo, ele retornou ao jornal em 1962, permanecendo até seu falecimento em 21 de dezembro de 1980. Sua obra e influência continuam a ecoar na literatura e no teatro nacional.
A Polícia Militar informou que não foi acionada sobre o incidente, e a Polícia Civil declarou que a administração do cemitério não registrou a ocorrência na delegacia da área. Enquanto isso, o cemitério São João Batista não respondeu aos contatos da reportagem.
Este triste acontecimento não é apenas uma perda material, mas um sinal alarmante da erosão do respeito e da valorização do nosso rico patrimônio histórico e cultural. Cabe às autoridades e à sociedade como um todo, reagir com medidas concretas para salvaguardar nosso legado para as futuras gerações.