Existem 193 países no mundo e 184 deles terão decréscimo populacional nos próximos 25 anos. Porém, outras 9 nações terão aumento de população, o que deve impulsionar a demanda por alimentos, segundo análise do economista e ex-presidente do "Banco do Brics", Marcos Troyjo, em palestra de encerramento do 18º Circuito Aprosoja, em Cuiabá.
De acordo com Troyjo, os países que terão aumento populacional são: Índia, Paquistão, Indonésia, Estados Unidos, Nigéria, Uganda, Tanzânia, Congo e Etiópia. Serão cerca de 2 bilhões a mais de pessoas no mundo no próximo quarto de século. “A partir desta constatação, fica uma pergunta: de onde virá a comida?”, provoca o palestrante.
O economista ainda pontua que, as contribuições dos países emergentes no crescimento econômico serão mais determinantes na formação da demanda global por alimentos do que os países já desenvolvidos. Como exemplo, Troyjo cita a Índia, que deve dobrar sua renda per capta na próxima década e impulsionar a demanda por alimentos.
“Se um país como a Suécia, que é um país super desenvolvido, dobra a sua renda per capta nos próximos 10 anos, o que os consumidores fazem com aquela renda adicional? Eles compram mais um imóvel na praia, aumentam a alocação do orçamento doméstico para assistência médica, fazem um procedimento estético”, ilustra Troyjo.
Por outro lado, quando um país como a Índia, que tem renda per capta de 2,5 mil dólares, dobra sua renda, a tendência é que a população passe a comer mais e melhor. Troyjo reforça a expectativa de aumento da demanda por alimentos com a China, apesar de alguns analistas cravarem que o “gigante asiático” está próximo de atingir seu teto de crescimento econômico.
Troyjo discorda desse ponto de vista. Em sua palestra, o economista lembra que em 2001, a economia da China, medida pelo Produto Interno Bruto Nominal, era de 2 trilhões de dólares. Hoje, o PIB Nominal da China é de cerca de 18 trilhões de dólares. Já o fluxo comercial Brasil-China era de 1 bilhão de dólares por ano, contra 1 bilhão de dólares “por hora” atualmente.
“Se uma economia como a China, que tem um PIB Nominal de 18 trilhões de dólares e ela estaciona sua taxa média de crescimento nos próximos 10 anos em 4%. Isso quer dizer que ela acrescenta ao seu Produto Interno Bruto, a cada ano, 720 bilhões de dólares. Isso significa dizer que a China cresce uma Argentina a cada 7 meses”, afirma.
O ex-presidente do Banco do Brics destaca que os três maiores produtores de alimentos do mundo, China, Estados Unidos e Índia estão quase “no limite” do uso de seus recursos hídricos, além de que Índia e China possuem as maiores populações do globo. Ademais, a agricultura na Índia é majoritariamente de subsistência, em um modelo de “minifúndio ineficiente”.
Troyjo avalia que a situação da Índia é ainda mais delicada, pois em algum momento, precisará abrir seu comércio exterior e, ao mesmo tempo, investir em tecnologia na produção agrícola, para evitar que a população rural migre para as cidades. A preocupação principal é o aumento da poluição, já que das 20 cidades mais poluídas no mundo, 18 estão na Índia.
“Do ponto de vista comercial, os indianos fazem os europeus parecerem os caras mais liberais do mundo, do ponto de vista do comércio exterior. Mas, em breve, os indianos precisarão lidar com esse dilema”, destaca Troyjo. Ele acrescenta ainda que a liberalização reduziria o preço da cesta básica no país, pois a Índia é um dos países que tem os alimentos mais caros do mundo.
Já o quarto maior produtor de alimentos do mundo, o Brasil, possui território, tecnologia e recursos hídricos para expandir sua produção, além do espírito empreendedor do produtor rural, que aumentou de forma exponencial a produtividade e a produção. Apesar desses fatos, pontua Troyjo, não tem nada garantido.
Ele ainda destacou os desafios para o Brasil alcançar esse potencial. Dentre eles, estão a insuficiência de ferrovias, déficit operacional dos portos de exportação, de armazenagem de grãos, déficit de geração de energia. Portanto, o Brasil tem os potenciais, mas ainda é preciso ter um bom “plano de voo” para superar esses desafios.
"Você quer que esse voo seja bom, você vê previsão do tempo, testa o avião, o sistema de comunicação, consegue falar com a torre de controle do aeroporto de decolagem e aterrissagem. Mas vem uma pergunta: a tripulação é competente? O piloto é ágil? Nós temos um bom plano de voo? Então, são essas coisas que nós temos que levar em consideração”, conclui.
Assessoria Aprosoja