À medida que o ano letivo de 2024 se inicia nesta segunda-feira, 19 de fevereiro, ressurge o debate em torno do Novo Ensino Médio. No Distrito Federal, a proposta educacional se destaca pela oferta de 200 disciplinas eletivas, abrangendo uma diversidade de eixos temáticos. Estas opções, detalhadas no portal da Secretaria de Educação, incluem disciplinas como Narrativas com RPG, Fundamentos Agroecológicos, Fotografia e Mitologia, entre outras, permitindo aos estudantes um leque variado de escolha que compete com matérias tradicionais como História, Física e Literatura.
A reformulação educacional, que substituiu o modelo antigo de 13 disciplinas obrigatórias por uma estrutura flexível, dividiu opiniões. Com 1.800 horas dedicadas a conteúdos comuns a todos e 1.200 horas para currículos personalizados, o modelo visa atender às especificidades de cada aluno. No entanto, essa abordagem é simultaneamente louvada por sua inovação e criticada por sua potencial contribuição à desigualdade educacional.
Especialistas que reprovam o modelo atual argumentam que ele favorece uma divisão entre estudantes de escolas públicas e privadas, com estas últimas mantendo um currículo mais tradicional e voltado para o sucesso nos vestibulares. Por outro lado, defensores veem na personalização uma chance de aumentar o engajamento e a retenção estudantil.
Adilson César de Araújo, pesquisador e professor do Instituto Federal de Brasília, utiliza o termo “apartheid educacional” para descrever o efeito da reforma, alegando que ela limita a educação dos filhos dos trabalhadores a um currículo mínimo. Araújo enfatiza que a reforma acentua as desigualdades históricas, ao passo que famílias com melhores condições financeiras podem assegurar uma educação mais completa e diversificada para seus filhos.
Em contraposição, o professor Remi Castioni, da Universidade de Brasília, defende o Novo Ensino Médio pela promoção da autonomia do estudante. Castioni aponta para a necessidade de uma educação que esteja mais alinhada aos interesses individuais, embora reconheça os desafios de implementação, como a especialização das escolas por áreas de conhecimento.
O Novo Ensino Médio, instituído pela lei nº 13.415 de 2017, reestrutura o currículo em cinco eixos, assegurando a obrigatoriedade do ensino de Português e Matemática, enquanto as demais matérias são selecionadas de acordo com o interesse do aluno e da instituição. Essa abordagem visa uma educação mais adaptada às demandas contemporâneas e aos interesses dos estudantes, embora permaneça o desafio de equilibrar inovação com equidade.
A discussão em torno do Novo Ensino Médio reflete um ponto crítico na educação brasileira: a busca por um modelo que não apenas prepare os estudantes para os desafios acadêmicos e profissionais, mas que também promova a igualdade de oportunidades. Enquanto alguns veem na reforma um passo adiante na modernização do ensino, outros alertam para os riscos de uma segregação ainda maior. O equilíbrio entre essas perspectivas será determinante para o futuro educacional do país.