O retorno calculado de José Dirceu e a construção de uma narrativa questionável

Moro critica a reaparição de Dirceu e as ambições do PT em redefinir a história

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O retorno calculado de José Dirceu e a construção de uma narrativa questionável
Reprodução/VEJA

Em um comentário carregado de ironia, o senador Sergio Moro (União-PR) destacou o retorno de José Dirceu à esfera pública após quase duas décadas de ostracismo. "Operação Lava Dirceu a todo vapor, em breve Lula poderá indicá-lo para CEO de uma grande empresa brasileira", escreveu o ex-juiz da Lava Jato na rede social X, anteriormente conhecida como Twitter. Esta declaração surge como uma crítica mordaz à tentativa de reabilitação de figuras controversas da política brasileira.

Conforme reportado pela Crusoé, José Dirceu, notório por seu envolvimento nos maiores escândalos de corrupção do Brasil, busca recuperar sua visibilidade política e alguma relevância dentro do PT. Este mensaleiro, condenado no petrolão, parece ignorar o peso de seus atos ao abençoar a união de Marta Suplicy ao PT e apoiar Guilherme Boulos, figura do Psol, na corrida pela prefeitura de São Paulo.

As declarações de Dirceu em um podcast, nas quais ele descreve como "quase uma covardia" o PT não apoiar as políticas econômicas propostas por Fernando Haddad, ex-ministro da Fazenda, revelam uma tentativa de remodelar a narrativa política a seu favor. Ainda mais flagrante foi sua aparição em Paris em 2023, ao lado do advogado Kakay, do Grupo Prerrogativas, comemorando a cassação do mandato do ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, um episódio que muitos consideram um ato de desafio às instituições judiciais brasileiras.

Contra Dirceu, pesam condenações que somam quase 42 anos de prisão, primordialmente por crimes de corrupção, algo que ele parece desconsiderar em sua tentativa de retorno ao cenário político.

Ao reaparecer na televisão, José Dirceu parece abraçar a premissa de Lula (PT) de que crimes de corrupção e abusos de poder podem ser minimizados por meio de uma "narrativa melhor". "Se eu quiser vencer uma batalha, eu preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo", disse Lula ao lado de Nicolás Maduro durante a visita do controverso líder venezuelano ao Brasil em junho de 2023.

Lula, em fevereiro de 2023, encorajou Dirceu a se expor publicamente, afirmando que ele "não tem que andar escondido, tem que colocar a cara para fora e brigar". Essas palavras, embora possam parecer motivadoras, levantam preocupações sobre a tentativa de reescrever a história e influenciar a percepção pública, com a cumplicidade de certos setores da imprensa. A narrativa continua a ser construída, mas cabe ao público discernir a verdade por trás da retórica.