No coração do carnaval paulistano, uma polêmica se desenha entre expressões culturais e a imagem das forças de segurança. O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) expressou veemente repúdio à escola de samba Vai-Vai devido a uma de suas alas no último desfile, intitulada "Sobrevivendo no Inferno". A controvérsia surge da apresentação de figurinos que, segundo o sindicato, associam policiais a entidades demoníacas, provocando uma forte reação institucional.
Através de uma nota oficial, o Sindpesp criticou a abordagem da escola, descrevendo-a como "vil e covarde" na representação dos agentes da lei. O comunicado enfatizou a dedicação e os desafios enfrentados por esses profissionais no cumprimento de seu dever de proteger a sociedade, muitas vezes sob condições extremamente adversas.
“É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”, destaca o sindicado.
A Polícia Militar de Goiás (PMGO) também manifestou formalmente seu repúdio à escola de samba Vai Vai por representar os policiais de maneira negativa em seu desfile no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. De acordo com a nota, a escola adotou uma postura "desrespeitosa e inaceitável" em relação à Polícia.
A PM lamentou pelo ocorrido justamente quando seus policiais militares estavam dedicados à proteção e segurança de milhões de pessoas em diferentes partes do país, em meio às celebrações do Carnaval.
“É crucial reconhecer o papel abrangente da Polícia Militar, não apenas na contenção da criminalidade, mas também na proteção dos valores que sustentam uma sociedade justa e inclusiva […] expressamos nossa solidariedade aos policiais militares de todo o país que, com dedicação e destemor, desempenham suas nobres atribuições em pro da segurança”, finalizou a nota.
Em contrapartida, a Vai-Vai defendeu seu desfile como uma expressão cultural significativa. O tema "Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano" buscou trazer à luz a cultura hip hop e a vida nas ruas, aspectos frequentemente marginalizados na metrópole. A defesa da escola se ancorou na ideia de que a ala controversa prestava homenagem ao icônico álbum dos Racionais MCs, "Sobrevivendo no Inferno", sem o propósito de denegrir a polícia, mas sim de evocar o contexto social e histórico dos anos 90.
A situação ganhou ainda mais visibilidade com a participação do pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, no desfile, aspecto que foi criticado pelo deputado federal Kim Kataguiri, adicionando uma camada política ao debate. O Sindpesp manifestou a expectativa de um reconhecimento público por parte da Vai-Vai acerca do que considera um excesso e erro na representação da referida ala.
Este episódio destaca a complexidade das relações entre cultura, arte e instituições de segurança, abrindo espaço para um diálogo necessário sobre os limites da expressão cultural e o respeito mútuo entre diferentes segmentos da sociedade.