Por Santiago Carranza-Vélez
Já se passaram dez anos desde que a Ibero-América adotou a Agenda 2030 da ONU. Hoje, o balanço está longe da utopia prometida. Sob o invólucro sedutor dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), esconde-se uma maquinaria ideológica que condicionou orçamentos, reformou legislações e transformou a linguagem política de todo o continente. O resultado: perda de soberania nacional, marginalização da família e deslocamento da fé religiosa em sociedades majoritariamente cristãs.
Vejamos alguns exemplos. No México, um decreto presidencial de 2019 criou um Conselho Nacional da Agenda 2030 encarregado de alinhar todas as políticas federais e locais com os mandatos das Nações Unidas. No Equador, a Agenda foi elevada a política pública mediante decreto em 2018. No Peru, o Marco de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável 2022-2026 vinculou o planejamento nacional às prioridades da ONU. Dessa maneira, a Ibero-América se viu forçada a reportar avanços periódicos perante organismos internacionais, situando tecnocratas globais como árbitros de políticas nacionais.
A família invisível
Um dos pontos mais denunciados é a omissão deliberada da família na Agenda 2030. Nem pai, nem mãe, nem matrimônio aparecem nos ODS. Também não há referência alguma à religião ou à transcendência espiritual do ser humano. Para regiões como a Ibero-América — com sociedades profundamente marcadas por valores familiares e fé cristã — esta omissão não é um detalhe: é um sinal de um projeto ideológico que pretende reconfigurar a cultura de cima para baixo, segundo registram relatórios da Fundação Origem.
O argentino Sebastián Schuff, presidente do Global Center for Human Rights, resumiu sem rodeios: a ONU e seus organismos "propagam uma agenda radicalmente contracultural que sustenta a ideologia de gênero como base da pessoa, o aborto como direito humano sagrado e a restrição da liberdade religiosa". Diante de parlamentos majoritariamente pró-vida e pró-família, os promotores recorrem a atalhos supranacionais para impor mudanças que não prosperariam no debate democrático.
Contrabando ideológico
Sob palavras como igualdade de gênero ou saúde sexual e reprodutiva, os ODS introduziram conceitos carregados de ideologia. O ODS 5, sobre igualdade de gênero, converteu-se em cavalo de Troia da ideologia de gênero em planos educativos e legislações. A meta 3.7, que fala de "garantir o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva", traduziu-se em promoção do aborto e anticoncepção massiva em vários países da região.
Este fenômeno foi qualificado como "contrabando ideológico": uma linguagem atrativa e positiva que oculta reformas profundamente divisivas. O resultado é um choque cultural evidente. Na Argentina, a legalização do aborto em 2020 foi aplaudida como cumprimento de compromissos internacionais. No Chile, a lei de identidade de gênero foi apresentada como parte da modernização do país. No México e na Colômbia, os currículos escolares foram redesenhados sob o enfoque de gênero. Tudo com um denominador comum: alinhar-se com os indicadores globais da Agenda 2030.
Chantagem econômica
O financiamento internacional tem sido a arma mais eficaz para impor esta agenda. Diversos relatórios documentam como organismos multilaterais condicionam ajudas e empréstimos à adoção de políticas alinhadas com os ODS. Países em desenvolvimento, necessitados de recursos, viram restringida sua capacidade de escolha. Fala-se de uma verdadeira chantagem econômica: aceitar a agenda ou renunciar aos fundos, segundo denunciam organizações como Population Research Institute, Origem ou Global Center for Human Rights.
Não surpreende que grandes indústrias globais se beneficiem do processo. Farmacêuticas, corporações tecnológicas e fundações multimilionárias encontram nos ODS um marco perfeito para expandir seus mercados em áreas como anticoncepção, aborto químico, hormônios de mudança de sexo ou serviços digitais educativos. A sustentabilidade se converte, assim, em um álibi rentável.
O Estado como novo salvador
Outro traço alarmante é o fortalecimento de um poder tecnocrático que desloca os povos e seus valores. Relatórios como o da Fundação CEU denunciam que a Agenda 2030 apresenta o Estado — e por extensão as burocracias internacionais — como o "novo salvador". A religião e a transcendência humana ficam marginalizadas, substituídas por um paradigma materialista e secular.
A própria Santa Sé expressou reservas sobre a Agenda, alertando que alguns de seus pontos chocam com a dignidade humana, a vida e a família. Mas as advertências caíram em saco vazio. A maquinaria das Nações Unidas segue avançando rumo ao que chama de "Pacto para o Futuro", que pretende prolongar e radicalizar a Agenda para além de 2030.
Balanço de uma década
O balanço após uma década é contundente: a Agenda 2030 fracassou em suas promessas de erradicar a pobreza ou reduzir desigualdades, mas teve êxito em algo mais inquietante: homogeneizar as sociedades sob um mesmo padrão ideológico. Longe de respeitar a diversidade cultural, buscou uniformizar os povos, apagar suas tradições e debilitar suas identidades nacionais.
Na Ibero-América, onde cerca de 90% da população se reconhece cristã, esta colonização é sentida como uma traição. Dez anos depois, a Agenda 2030 não é um simples plano de desenvolvimento. Suas metas utópicas serviram para justificar um sistema de supervisão global e uma ideologia que avança a golpes de decretos, ajudas condicionadas e propaganda educativa.
Crédito Lagaceta