Profetismo: Amós, intercessão profética por misericórdia

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Profetismo: Amós, intercessão profética por misericórdia

Analisar os profetas do Antigo Testamento, delimitando o tema com profetismo em Amós para melhor entender a intercessão profética por misericórdia, porém atentou-se para a estrutura do profetismo em Israel, a evidência da graça de Deus. Quais as causas que levou o Senhor Deus a suscitar um profeta boieiro como Amós a interceder por misericórdia, esse é o problema da pesquisa. Levantou-se algumas hipóteses, como Deus desejou manifestar a sua justa ira contra o seu povo impenitente, ou o propósito do Senhor fora revelar a Israel sua Graça superabundante em meio ao caos espiritual, ou ainda evidenciar seu amor e cuidado para com os necessitados e injustiçados? A metodologia proposta é por meio de análise em pesquisa bibliográfica, consultando obras de David Allan Hubbard, D.A Carson, Lawrence C. Richards, Geerhardus Vos entre outros. Os objetivos desse artigo é fornecer uma contribuição para a reflexão sobre a Graça de Deus no profetismo em Israel, especificando-se em levantar junto à literatura especializada a evolução histórica do profetismo em Israel, analisar a importância da Graça de Deus para como seu povo no profetismo, identificar a conexão da intercessão de Amós com a obra e ministério de Cristo. Justifica-se a escolha do tema a partir da preocupação quanto a escassez de comentários sobre o livro do profeta Amós com foco na Graça de Deus, em meios ao caos sócio espiritual pelo viés do profetismo. A Fundamentação Teórica será apresentada em três partes que não pretendem esgotar o assunto, mas que deverão enfatizar os aspectos mais relevantes sobre o tema: a primeira, pretende abordar a evolução do profetismo em Israel, a segunda apresentará o caos social, ético e espiritual na nação, e a terceira a graça de Deus e a restauração do seu povo. Para melhor situar-se no contexto do profetismo em Amós torna-se necessário identificar alguns aspectos inerentes ao livro de Amós e ao seu ministério profético; portanto é o que faremos nas próximas páginas.

O profeta Amós é identificado como o próprio autor ou escritor do livro que leva o seu nome, Gary V. Smith identifica o autor humano dos oráculos incluídos nesta coleção de profecias, em Amós 1.1a: “Palavras que, em visão, vieram a Amós”, todavia nota-se que o profeta não alega ser o único autor, pois a oração subordinada relativa posterior, “que em visão” indica que Amós recebeu estas palavras de outra fonte. Smith afirma que Amós proclamou o que ouviu e relatou o que viu. As informações biográficas sobre Amós limitam-se à descrição contida neste livro. O nome desse escritor não é mencionado em nenhum outro lugar, é importante notar que esse profeta não é o Amos de Isaías 1.1. Em suma é feito um resumo do caráter e personalidade do profeta na introdução do livro.

Dr. MacArthur ressalta que Amós é o único profeta que declara qual era a sua ocupação antes de ter sido comissionado por Deus para o seu ministério; não tinha vindo de uma família nobre ou sacerdotal, mas trabalha como pastor de rebanhos. Donald Stamps afirma que o escritor era contemporâneo de Jonas e Oséias.

Pode-se considerar que Amós estava cônscio de uma missão irresistível (3.8; 7.15) e que Deus é soberano e escolhe para seus mensageiros aqueles que quer. Sobre a fonte a mensagem e o discurso do profeta Amós Smith ressalta:

O discurso do profeta começa com uma afirmação que identifica o autor original da mensagem. “Assim diz Yahweh” introduz uma declaração feita por Deus 13 vezes em Amos (1.3,6,9,11; 2.1,4,6; 3.11,12; 5.3,4,16; 7.17), e todos os exemplos no capitulo 1 e 2 aparecem no inicio de um novo oraculo. A frase introdutória e chamada de “formula de discurso do mensageiro”. Quando um mensageiro entrega uma mensagem, e normal apresentar aquele que enviou a mensagem.

Essas expressões confirmam que Deus e o autor das palavras dos profetas do Antigo Testamento, este método de apresentar a palavra de Deus e comum entre os profetas (especialmente entre Jeremias e Ezequiel) assevera Gary V. Smith, professor de Antigo Testamento no Midwestern Baptist Seminary, em Kansas City.

Seu escrito é datado de meados do século VII a.C, durante os reinados de Uzias, rei de Judá (c. 790-739 a.C.) e de Jeroboão II rei de Israel (793-753 a.C), dois anos antes de um memorável terremoto (1.1; cf. Zc. 14.5).

Amós era um profeta da tribo de Judá, chamado para transmitir uma mensagem essencialmente para as tribos do norte de Israel (7.15); nota-se na introdução que Amós era um “dos pastores de ovelhas” da cidade de Tecoa. A vila de Tecoa era provavelmente o lugar de nascimento do profeta e o lugar onde ele vivia quando foi chamado por Deus para anunciar a mensagem a Israel. Smith ressalta que o profeta residia na região montanhosa ao sul de Judá, estando aproximadamente cerca de 16 Km ao sul de Jerusalém, tendo Belém ao norte, Hebrom ao sul e o Mar Morto ao leste. Smith apresenta algumas características dessa região: “A vila está na linha divisória entre a região desértica a leste e as terras agrícolas a oeste. Cerâmicas deste local remontam a Idade Antiga e a Idade do Bronze Média, e as escavações inicias descobriram cerâmicas da Idade do Ferro II e por volta de 750 a.C., próximo da época de Amós.”

Autores bíblicos são unanimes em afirmar que os destinatários da mensagem é a nação de Israel. As palavras de Amós, o pastor da vila judaica de Tecoa, são dirigidas à nação do norte, Israel, que era governada por Jeroboão II. A partir dos textos do próprio livro identificamos as referências a Samaria (3.9,12; 4.1; 6.1; 8.14), Betel (3.14; 4.4; 5.5,6; 7.13), a casa de Israel (5.1,3,25; 6.1,14), Jacó (7.2,5; 9.8) entre outras referências diretas e indiretas confirmam que estes oráculos foram outorgados taxativamente a Israel, reino do Norte. Falou primariamente ao Reino do Norte (7.15), mas também se dirigiu aos pecados de Judá (2.4-5; cf. 9.11).

O conteúdo do livro consiste numa série de ameaças contra as nações vizinhas; Ezequias Soares afirma que é o livro da justiça de Jeová. Sua mensagem era contra o seu próprio povo, que havia se afastado de Jeová. Amós exortava: “Buscai-me e vivei” (5.4). O profeta cria que Israel, poderia ser salvo, mas rejeitaram a Palavra de Deus, sendo prisioneiros dos próprios pecados. O livro termina com a promessa do retorno de Judá à sua terra para não mais ser desarraigada (9.14,15) O livro é citado por dois personagens no Novo Testamento.

John C. Hagee, editor da Bíblia de Estudo das Profecias, afirma que Amós profetizou em ocasião de exuberância, o reino estava em franco crescimento, expandido suas fronteiras e sua economia, nessa época aqueles que eram afortunados o suficiente para ocupar posições de influência – líderes políticos, comerciantes, sacerdotes – usavam seu poder para oprimir as pessoas comuns debaixo de seus interesses próprios. Revelar a severidade do julgamento divino por causa da infidelidade pactual em Israel e Judá e declarar a esperança de grande restauração depois da destruição e do exílio que estavam se aproximando. Considera-se que o propósito do livro era defender o monoteísmo ético, por meio de mensagens proféticas em favor da justiça e da retidão, baseado no caráter de Deus. Nota-se que Amós ilustra vividamente quão abominável é para Deus a religião quando divorciada de uma conduta reta. Nessa ocasião há uma confrontação radical e vigorosa entre Amós e o sacerdote Amazias (7.10-17), que se tornaria uma cena clássica na profecia hebraica, ressalta Stamps. Depois desse fato é possível que Amós retorna a sua casa em Judá, onde escreve sua mensagem, e seu propósito era conforme descrito por Donald C. Stamps:

“(1) Entregar ao rei Jeroboão II uma versão escrita de suas advertências proféticas; e (2) disseminar amplamente em Israel e Judá o oráculo da certeza do iminente juízo divino contra Israel e as nações em derredor, a não ser que estas se arrependessem de sua idolatria, imoralidade e injustiça. Inevitavelmente a destruição de Israel ocorreria três décadas mais tarde.”

Embora Amós não tivesse treinamento acadêmico, não foi ultrapassado por nenhum de seus sucessores no que diz respeito a vivacidade, vigor e simplicidade de linguagem. Seu estilo é simples, mas cheio de energia e elegância. O professor Robertson Smith defende Amós como mestre de puro estilo hebraico. O foi escrito em Hebraico, embora literário, sua linguagem traz muitas idéias tipicamente judaicas, com expressões de origem semita.  Amós utiliza-se de diversos argumentos e figuras para afirmar a Soberania de Deus, entre elas há o uso, por diversas vezes (Jo 8:12, 58; 9:5; 10:7, 9, 11, 14; 11:25, 14:6; 15:1, 5) da expressão. O estilo de linguagem é simples, embora majestoso e profundo.

Os termos que empregou eram todos familiares para seus contemporâneos, pois suas observações são todas derivadas da vida diária. Nenhum outro profeta nos forneceu tais metáforas tiradas da natureza com uma variedade tão fresca, vívida e variada. Ele se refere aos trilhos de ferro de debulhador (Am 1.3), à tempestade (Am 1.14); aos cedros e carvalhos com suas profundas raízes (Am 2.9); ao leão faminto a rugir na floresta (Am 3.4); à ave apanhada ao laço (Am 3.5); ao pastor que sai em socorro da ovelha (Am 3.12); aos anzóis e redes do pescador (Am 4.2); às chuvas parciais (Am 4.7); ao bolor e à ferrugem, às colinas e ventos ao nascer do sol, às estrelas, aos criadores lamentosos, aos terremotos, aos eclipses, ao grão peneirado numa peneira, ao refugo do trigo, às tendas consertadas.

A canonicidade deste livro, ou sua reivindicação de um legítimo lugar nas Escrituras em momento algum na historiografia bíblica foi questionada, porém defendida. Estudiosos e pesquisadores entendem que desde os tempos primitivos, foi aceito pelos judeus, e aparece conforme de afirma nos mais antigos catálogos cristãos. Nota-se que o próprio livro não contradiz, mas está de acordo plenamente com as demais partes da Bíblia, percebe-se isso pelas várias referências do escritor á história bíblica e às leis de Moisés. (1.11; 2.8-10; 4.11;5.22,25; 8.5). A partir de Estevão pode-se concluir que os cristãos do primeiro século aceitavam os escritos de Amós como Escritura inspirada, (Atos 7.42,43; Amós 5.25-27), e Tiago, irmão do Senhor (Atos 15.13-19; Amós 9.11,12) mencionaram o cumprimento de algumas das profecias.

Há outros eventos históricos que atesta, de forma contundente, a veracidade do profeta. É fato histórico e inquestionável que todas as nações condenadas por Deus através da mensagem profética de Amós foram, no devido tempo, devoradas pelo fogo da destruição.

A própria grandemente fortificada cidade de Samaria foi sitiada e capturada em 740 a.C conforme os melhores estudiosos. De acordo com o profeta de Deus foram levados “para o exílio além de Damasco”, (5.27; II Reis 17.5,6) mas também Judá, ao sul recebeu igualmente a devida punição quando foi destruída em 607 ou 609 a.C (2.5). De forma fiel se cumpriu as palavras de Jeová, mediante seu profeta Amós, quando em 537 a.C. os descendentes cativos tanto de Israel como de Judá retornaram para reconstruir sua terra natal. (Amós 9.14; Esdras 3.1). Sobre a coleção dos Doze Profetas Menores nota-se que já era conhecida nessa forma, desde o período Inter bíblico. Os livros dos Profetas Menores no nosso Antigo Testamento seguem a mesma ordem do Cânon Judaico: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Todos eles trazem o nome de seus respectivos escritores. Eles Exerceram seu ministério durante cerca de 365 anos, entre 800 e 435 a.C. Os Doze Profetas são considerados como um só livro desde o período Inter bíblico, logo se compreende que todos os livros desses Profetas são inspirados e reconhecidos no Novo Testamento, ainda que alguns deles não sejam citados individualmente de maneira direta, como Obadias e Sofonias, pois são partes de uma biblioteca divina.

O propósito desse artigo é trabalhar o profetismo em Israel a partir de Amós como intercessor diante de Deus. Todavia antes de abordamos faz-se necessário, para maior esclarecimento afirmar o que é o   profetismo. Primeiro, o movimento, em si. Depois, as pessoas que compuseram o movimento, caso oposto, corre-se o risco de discutir um assunto que não terá ficado bem definido, tamanha a diversidade de conotações que o termo recebe nos anais da historicidade profética.

Cabe ressaltar que o profetismo em Israel é diferente em muitos aspectos do profetismo entre os pagãos.

O profetismo não trouxe uma mensagem inédita, mas um chamado à fidelidade à aliança firmada com Iahweh e que culminara na outorga da lei. Ele não criou conceitos, mas revigorou os do passado. O profeta olhava para o passado, para a aliança.  Estudiosos afirmam que o profeta pagão não trazia uma mensagem com fundo moral e ético, apenas buscava descobrir o futuro para orientar os reis sobre guerras a declarar, alianças políticas a fazer ou decisões por tomar, como os adivinhadores e os sábios de Faraó, percebe-se isso em Gênesis 41.8.

Ao pensar sobre o profeta normativo, podemos considerar que a primeira pessoa a quem a Escritura de profeta foi Abraão (Gn 20.7; cf. Sl 105.15) mas a profecia no Antigo Testamento recebeu sua forma normativa na vida e na pessoa de Moisés, que passou a constituir padrão de comparação para todos os profetas futuros, J. D. Douglas, por meio do Novo Dicionário da Bíblia, comenta:

 

Cada característica que caracterizava o verdadeiro profeta de Yahweh, na tradição clássica da profecia vetero-testamentária, foi pela primeira vez encontrada em Moisés. Ele recebeu uma chamada específica e pessoal da parte de Deus. A iniciativa da chamada de alguém para o ofício profético depende de Deus (Êx 3.4-17; Is 6.1-8; Jr 1.4-19; Am 7.14,15; Jn 1.1) e é somente o profeta falso que ousa arrogar-se o ofício (Jr 14.14; 23.21). O objetivo e o efeito primário da chamada era uma introdução à presença de Deus, conforme fica demonstrado nas passagens observadas acima. Esse era o ‘segredo’ ou ‘conselho’ do Senhor (I Rs 22.19; Jr 23.22; Am 3.7). O profeta aparecia perante os homens na qualidade de um homem que se apresentara perante Deus (I Rs 17.1; 18.15) (p.1318).

A preocupação ética e social é evidenciada em Moises antes mesmo de sua chamada, o escolhido do Senhor estive com a atenção voltada com o bem estar de seu povo (Êx 2.11,17) e após, na qualidade de legislador profético, Moisés esboçou a maioria dos códigos humanos e filantrópicos do mundo antigo, preocupado pelos incapazes (Dt 24.19-22) sendo inimigo do opressor (Lv 19.9)

Em Moisés encontramos o protótipo para os demais profetas do Antigo Testamento, muitos dos profetas foram encontrados a confrontar seus reis e a desempenhar um  papel ativo, próprio de estadista, nos negócios nacionais, em Moisés encontramos essa função  profética, Douglas chama a atenção para os dois primeiros reis de Israel também foram profetas, ainda que tal unção  de ofícios não  tivesse tido prosseguimento, e o governo mosaico-teocrático foi prolongado mediante a associação do rei ungido como o profeta ungido. Nota-se em Moisés e nos sucessores usando símbolos na entrega de suas mensagens, o aspecto intercessório da tarefa profética, Moisés representava o povo perante Deus (Ex 18.19; Nm 27.5) em uma situação específica Moisés literalmente se colocou no meio como homem de oração (Êx. 32.30; Dt 9.18).

W. E. Vine afirma por meio do Dicionário Expositivo do Antigo Testamento, que profeta é “aquele que fala antecipadamente ou abertamente.”, e profecia significa “a declaração da mente e do conselho de Deus”; denotava entre os gregos um intérprete dos oráculos dos deuses, ressalta Vine, que também acrescenta:

Na Septuaginta, é a tradução da palavra rôeh, “vidente” (I Sm 9.9), indicando que o “profeta” era aquele que tinha intercurso imediato com Deus. Também traduz a palavra nabhi, que significa “qualquer um em quem a mensagem de Deus emana” ou “aquele a quem qualquer coisa é comunicada secretamente”. Por conseguinte, em geral, o “profeta” era a pessoa em quem o Espírito de Deus descansava (Nm 11.17-29), alguém e por quem Deus fala (Nm 12.2; Am 3.7-8). No caso dos profetas do Antigo Testamento, suas mensagens eram em grande parte a proclamação dos propósitos divinos e salvação e glória a serem realizados no futuro; o “profetizar” dos “profetas” do Novo Testamento era uma pregação das deliberações divinas da graça já realizadas e a predição dos propósitos de Deus no futuro. (p.903)

Vine ressalta que o substantivo nabi “profeta” tem um possível cognato no acadiano. Ocorre em torno de 309 vezes no hebraico bíblico e em todos os períodos, a primeira ocorrência de nabi está em Gênesis 20.7 a segunda em Êxodo 7.1, conforme Vine esta palavra usa-se juntamente para referir-se aos “profetas pagãos” nota-se isso em I Reis 18.19

Na terminologia, quando falamos de ‘profetismo’ ou de ‘profetas’, estamos tratando da existência de pessoas que se sentiam, se apresentavam e falavam perante a comunidade como portadoras de mensagens divinas. Tais pessoas recebem designações diferentes nas suas respectivas culturas e línguas. Em Mari, usava-se o termo muhhum e apilum; na Babilônia, o termo baru; em Israel cunhou-se o termo nabi’ como termo genérico para tais personagens ou figuras. Em português, usa-se o termo ‘profeta’, que deriva da tradução que a versão grega da Septuaginta atribuiu aos nomes semíticos originais: prophetes. Este termo deriva do verbo pro-phemi, significando “falar diante de”, “falar em nome de”. De uma forma geral, tem-se aí o sentido fundamental de que profetas são mediadores entre divindades e seres humanos.

Na Bíblia hebraica encontramos diferentes tipos de profetas inclusive com designações distintas. O termo nabi’ serve como uma espécie de designação genérica. Mas há outros termos.

Entre outros aspectos da função da profecia podemos considerar algumas de forma panorâmica.

1)    O profeta tinha a responsabilidade de encorajar o povo de Deus a confiar exclusivamente na sua graça, no seu poder. Isso Moisés fez: ensinou que a segurança de Israel estava no poder de Deus, não em Israel. Os profetas das épocas de crise em Israel e Judá também: a nação deveria confiar em Iahweh e não no Egito ou na Assíria. Nota-se, como exemplo, a insistência de Oséias em afirmar que o Egito e a Assíria não salvariam Israel. Aliás, a Assíria acabou destruindo Israel. O profeta é um encorajador do povo de Deus a confiar nele, somente nele.

2)     O profeta tinha a responsabilidade de avisar ao povo que sua segurança dependia de fidelidade à aliança, Moisés e os grandes profetas agiram por esse prisma.

3)     O profeta devia encorajar Israel quanto às coisas futuras. Mesmo anunciando o juízo, os profetas avisavam que haveria um remanescente, que teria a missão de trazer o messias ao mundo.

4)    A profecia se autenticava, em termos de previsão, quando se cumpria.  Deuteronômio 18.21-22 afirma que se o que o profeta falasse não se cumprisse, a mensagem não era de Deus, logo se poderia entender. O que caracteriza o profeta é o espírito crítico. Consumidos pelo amor a Javé, os profetas bíblicos denunciaram erros dos reis e do povo; formaram grupos de discípulos; anunciaram as derrotas (o cativeiro na Babilônia) em função de políticas equivocadas dos reis; solidarizaram-se com o povo, a quem ajudaram a ler os fatos históricos à luz da fé.

Sem deter-se muito no assunto vejamos   alguns tipos de profetas mostrados no Antigo Testamento, especialmente nos profetas encontramos diferentes tipos de profetas inclusive com designações distintas. Os termos ‘homem de Deus’ (ishelohim) e ‘vidente’ (ro’eh) por vezes são usados como sinônimos (1Sm 9,6.10), assim como também o termo ‘visionário’ (hozeh). Todos juntos são entendidos, sobretudo a partir do séc. VI a.C como ‘profetas’ (nabi’ – Is 29,10). O termo nabi’, embora seja designação genérica dos profetas hebraicos, parece ser mais indicativo daqueles inseridos em corporações ou escolas proféticas (como Elias e Eliseu) ou ligados ao espaço do templo e da corte (p. ex. Natã). Por isso costumam ser designados como profetas ‘cúlticos’ ou ‘institucionais’. Estes parecem ter constituído a matriz mais comum do fenômeno. Nota portanto que profetas ‘clássicos’(Amós, Isaías, Jeremias, Amós, Oséias, Miquéias, Sofonias, etc.) do período pré-exílico (séc. VIII e VII a.C) não utilizam o termo nabi’ para designar os personagens que dão nome aos livros. A única exceção é constituída pelo livro de Habacuc (Hc 1,1; 3,1). Os profetas clássicos do século VIII e VII a.C chegavam a negar explicitamente a designação de nabi’ (Am 7,14), ressaltando a sua atividade como um carisma diretamente outorgado pela divindade.           

1º) O vidente, aquele que vê coisas escondidas, como Samuel, por exemplo. Ele sabia onde estava a jumenta extraviada de Saul (1Sm 9).

2º) O profeta individual, clássico, que mesmo não sendo convidado pelo povo, adverte-o sobre seus pecados.

3º) Os profetas de corporações, produto das chamadas escolas de profetas. Geralmente tinham um chefe ao redor do qual se agrupavam. Como foi com Elias, chefe de uma escola (2Rs 2.3), e com Eliseu, que tinha também discípulos, como Geazi, e uma escola (2Rs 4.1A falta do templo nacional em Israel, com o ensino da Torá impossibilitado pela ausência dos levitas, talvez explique o fenômeno desses agrupamentos. Afinal, as chamadas “escolas” aparecem no Norte, em Israel: Ramá, Betel, Gilgal, Jericó e Samária. Eram um fenômeno mais comum em Israel que em Judá, muito mais agrupamentos de pessoas ouvindo os ensinos dos profetas, e não, necessariamente, escolas no sentido que o termo tem.

Parece que nem sempre eram bem vistas, posto que Amós fez questão de dizer que não era “filho de profeta” (Am 7.14-15). Ele rejeitou a identificação com qualquer grupo, não vendo isso como mérito ou credencial, mas escolas de profetas apenas supriam, no Norte, a ausência da Torá. Havia, neste caso de profetas de corporações, os profetas da corte, os conselheiros do rei, que deveriam orientá-lo, mas que muitas vezes diziam o que o rei queria ouvir. Veja a polêmica entre Amazias e Amós, como exemplo (Am 7). Amazias era um profeta da corte.

4º) Os profetas do culto, parte do pessoal do templo. Alguns dos salmos de louvor e de proclamação devem ter sido compostos por eles, como o 85, por exemplo, onde se lê “salmo dos filhos de Corá”.

5º) O profetismo messiânico-escatológico, que não aparece muito no Antigo Testamento, a não ser em Ageu e Zacarias (um pouco menos em Malaquias).

Sobre a história do profetismo Geerhardus Vos ressalta que podemos ter o tempo de Moisés como nosso ponto de partida. Oseías chama Moisés de profeta (Os. 12.13), em Números (11.29), Moisés, expressou o desejo de que todo o povo do Senhor pudesse ser profeta. Amós fala dos profetas que foram levantados no passado distante (Am 2.11). Pedro, em Atos (3.21,24), reconhece que houve uma incisão na história da revelação no tempo de Samuel e que a profecia numa nova forma começou a partir daquela data, ressalta doutor Vos.  Por ser o primeiro profeta nacional (Nm 11.29; Dt. 18.18), Moisés tornou-se um modelo para os demais profetas. Foi possivelmente sob sua influência que Samuel, mais tarde, viria a estabelecer as conhecidas escolas de profetas. (1Sm 19.18,20; 2 Rs 2.3,5; 4.38; 6.1)

Conforme o professor de teologia bíblica Geerhardus Vos, há dois pontos que diferencia os tempos de Moisés aos de Samuel, essa nova época do profetismo a partir do profeta, juiz e sacerdote Samuel, há para Vos, um lado que o ofício obteve um pano de fundo teocrático público maior para a sua atividade no reino recém estabelecido, mas por outro lado o número de profetas apresenta um grande aumento, especialmente se contar os grupos coletivos de profetas associados a homens como Samuel. Ao longo de seu desenvolvimento e estruturação o profetismo manteve-se firme na Palavra de Jeová, sem se comprometer com a degeneração em muitos aspectos do reino, logo no início percebe-se uma era amigável, favorável e protetora entre o profetismo e o reino. Vos destaca dois períodos importantes no profetismo de Samuel ao fechamento da profecia nas páginas veterotestamentárias:

O primeiro desses períodos se estende desde o grande reavivamento profético no tempo de Samuel até a data dos primevos profetas escritores por volta da metade do século VIII a.C. O segundo se estende desse ponto em diante até o fechamento da profecia no Antigo Testamento (p.231).

Os atos do êxodo levam ao estabelecimento da organização teocrática, todavia nos dias de Samuel, posteriormente ao período mosaico, nota-se a nova organização do reino teocrático sob um governante humano, consolidado sob uma base firme até a ascensão de Davi, acertadamente podemos concordar convosco e afirmar que o profetismo é um movimento produto do período do reinado.

Dentro desse contexto de oposição entre profetismo e reino ressalta Valtair Miranda, mestre em teologia e doutor em ciências da religião:

Os profetas eram homens e mulheres de oposição à situação a sua volta. Nessa fase da atividade profética, a mensagem tinha uma intensa crítica social. Criticavam o Estado, a religião e o próprio povo, por estarem na situação de miséria e não buscarem a ajuda de Deus. Na verdade, suas palavras apontavam que a situação era resultado da desobediência.

O antagonismo originou-se à medida que a apostasia se fortalecia tanto entre os reis como na nação, o relacionamento com base na edificação e consolo proteção foi alterado, isso afirma Vos:

Profetas e reis se posicionaram em oposição uns aos outros. Como a idéia central da profecia havia se tornado a da queda, os reis que criam naturalmente na conservação que existia, consideravam os profetas com suspeita e antagonismo. Os profetas, em sua opinião, não eram patriotas, na verdade, eram considerados como traidores.

Em Amós 5.24 encontramos o profeta como pregoeiro de justiça e de retribuição, não sacrifícios, mas justiça é o teor da mensagem divina por meio do judaísta que profetizou no Norte, Robert R. Wilson ressalta a veracidade dessa oposição:

Contudo, está claro que funcionou como profeta periférico no Norte, onde tentou reformar os sistemas social e religioso segundo linhas judaístas. As suas profecias suscitaram oposição da instituição do norte e da população em geral (Am 5.10,13;6.9-10; 7.10-13,16-17), e os seus ouvintes se recusaram a reconhecer a sua autoridade profética. Por esta razão foi deportado, terminando, assim, efetivamente a sua carreira como profeta periférico.

No período denominado dos profetas escritores, percebe-se a “Revolução Francesa” na historiografia do profetismo em Israel, tendo como auge a produção de livros como os livros de Samuel e Reis entre outros, nos quais o curso dos eventos e colocado sob a luz do desenrolar do reino divino, sobre os profetas escritores ressalta doutor Vos:

Do meio do século VIII em diante os profetas começaram a ser profetas escritores. Amos, Oseias e de certo modo, mais tarde Isaias e Miqueias pela primeira vez entregaram a palavra profética por escrito. A palavra dos profetas anteriores, apesar de ser verdadeiramente uma palavra divina, tinha sido basicamente uma palavra transiente, endereçada para sua geração.  Porem, a partir da segunda crise em diante, a palavra sempre progressivamente recebia referencia a outra criação do futuro, e consequentemente, lidava com coisas nas quais as futuras gerações teriam uma porção e interesse supremo.

O poder ilimitado de Yahweh e fortemente enfatizado por Amós, primeiramente para o propósito ético de ampliar o terror do juízo que se aproxima. Amos de maneira figurativa e descritiva conceitua a onipotência de Yahweh, vos ressalta que:

Yahweh forma as montanhas, cria o vento, faz as estrelas e o Orion. Ele convoca as águas do mar e as despeja sobre a face da terra. A mudança do dia para a noite, e vice versa, obedece a sua vontade. Como um conquistador controla a terra ocupando os lugares altos, assim ele pisa sobre os lugares altos da terra. Ele envia fogo, fome, pestilência e todas as pragas e também o mal, sendo tudo isso mais uma vez, instrumentos da execução de seu julgamento.

Nos profetas escritores, nota-se que há diferença no que tange aos dias de Samuel, tendo em vista que no primeiro momento do profetismo a possibilidade de arrependimento e conversão, em resposta a pregação profética, é ainda levada em conta, porém no segundo período, que é dos profetas escritores, apesar do chamado ao arrependimento não cessar nunca, ele adquire um tom mais ou menos superficial, tendo em visto o juízo divino. O profeta, agora sabe que a regeneração, não o reparo do presente, está no ventre do futuro, o juízo divino é inevitável.

D. A. Carson observa que o rugido do Leão em Amos 1.2 evidencia o eminente juízo: “Como todo bom pregador, ao céu aberto, Amos atrai ouvintes ao lhes dizer o que desperta o seu entusiasmo – o juízo prestes a cair sobre os odiados inimigos” (p.1196)

A partir do século. VIII a.C. entendem os estudiosos em profetismo, que se desenvolve no antigo Israel uma polêmica sobre verdadeira e falsa profecia. Trata-se basicamente de uma discussão sobre o conteúdo das mensagens. Tradicionalmente, os profetas institucionais tendiam ao anúncio de mensagens positivas de graça para o próprio povo e de juízo para os outros. Com Amós, na metade do século VIII a.C, inicia-se uma nova tradição, na medida em que o juízo é direcionado também contra o próprio povo de Israel (Am 2,6-13; 5,18-20). Tal mudança de conteúdo acarreta um distanciamento crítico em relação ao centro de poder. Isso gerou, no fenômeno profético, dois tipos distintos de profecia no que tange ao conteúdo, havendo, porém, similaridade quanto à forma. Ambos se apresentavam como mediadores entre o Deus Yahveh (Mq 3,4-7) e o povo e é em nome da mesma divindade que acontecem as acusações mútuas. O caso mais conhecido é a disputa entre Jeremias e Hananias (Jr 28-29), logo deve-se compreender a Jeová não entra em contradição, então há nesse contexto alguém que é falso, mas não é Jeová.

Os ‘profetas posteriores’ são, por sua vez, divididos em ‘profetas maiores’ e ‘profetas menores’, sendo, por ocasião da coleção e transmissão, o tamanho dos rolos constitutivo para tal designação. São também designados de ‘profetas literários’ justamente por causa dos textos agregados em torno do personagem profético que dá nome aos livros. Os livros de Josué, Juízes, 1+2 Samuel e 1+2 Reis, conhecidos como a obra historiográfica Deuteronomista, constituem os ‘profetas anteriores’; porem a versão grega da Septuaginta reorganizou esta ordem canônica da Bíblia hebraica, inserindo aí o livro de Daniel, e qualificando como profético este livro, que, como expressão do gênero apocalíptico, originalmente, no cânon hebraico, figura entre os Escritos. Também o livro de Lamentações foi inserido entre os proféticos, sendo este atribuído a Jeremias; o livro de Baruch também aí recebeu o seu lugar. Na Septuaginta, este conjunto dos livros proféticos ‘clássicos’ foi alocado após os Escritos como parte canônica preparatória do anúncio da vinda do Messias, ocasionando, assim, a separação em relação aos livros de Josué a II Reis. Com isso o arco narrativo produzido no cânon hebraico foi rompido pelos tradutores e reorganizadores responsáveis pela Bíblia dos Setenta.

Dr. Valtair Miranda afirma que:

É verdade que a atividade profética já era conhecida fazia tempo no meio do povo, em movimento breves e localizados, por exemplo, na mensagem de Elias e Eliseu, ou antes, de Nata, no tempo de Davi. Mas agora suas mensagens passam a ser colecionadas em obras que levam o nome do profeta.

Entre profecias contra judeus e gentios, controvérsia de Deus com Israel e promessas de restauração, encontramos um homem de intercessão, Amos e o seu nome, diante a mensagem de juízo de Deus contra varias nações, por causa de seus pecados e rebelião contra Ele, as advertências em busca de evitar o juízo contra o reino do Norte.

Sobre a mensagem de esperança e de graça, bem como a respeito da veracidade das credenciais de Amós, Carson entende que Amós é um profeta de Javé, e apenas essa credencial já teria sido suficiente para preservá-lo das acusações de que lhe faltava uma mensagem de esperança, pois não se pode falar de Javé e excluir a esperança, pois ela é a essência de sua própria natureza afirma Carson. Sobre o grande amor de Deus e sua misericórdia que tem como seu fruto a graça, Carson ressalta:

Isso se torna claro em 7.1-6, em que Amós é levado a encarar a plena conseqüência dos pecados de Israel em grandes juízos, os quais não deixariam sobreviventes. Quando ele ora contra tais eventualidades, Deus lhe assegura que “Não acontecerá”. O comentário mostrará que as declarações negativas de 7.3,6, negando a destruição total, assumem a forma de uma esperança positiva em 9.11-15: um Davi restaurado, uma criação restaurada e um povo restaurado.

Amós examina os pecados de Israel de uma perspectiva tanto social, quanto religiosa; sua corrupção em relação aos justos, sua insensibilidade em relação aos mais pobres e sua  voracidade em relação aos oprimidos são fatos primeiramente observados, todavia o profeta compreende a Graça de Deus em meio ao  caos, no centro de sua mensagem estão os bons atos de Deus, os quais tornaram Israel especial e aos quais ele não correspondeu: em particular a dádiva da terra, a redenção do Egito e o cuidado no deserto, a revelação de Deus e de sua palavra por meio dos profetas conclui D. A. Carson

Amós compreende que o coração do problema de Israel era a religião sem arrependimento. Os crimes, a rebeldia, ainda as ofensas à santidade de Deus, são inferiores ao não arrependimento quando o Deus de graça lhes facultou a oportunidade, eles não se arrependeram. Carson acrescenta que o Senhor é a causa das mais variadas circunstâncias da vida, e seu propósito, em cada ato de aflição, é trazer seu povo de volta para ele, nas palavras de Carson podemos evidenciar essa verdade:

Ele quer uma proximidade consigo revestida de quaisquer termos que sejam apropriados às circunstancias; arrependimento, se houve pecado envolvido, a atitude de buscá-lo por conforto etc. Sem relacionamento não há religião. Na época de Amós, enquanto o povo estava sendo religioso, o Senhor estava agindo e buscando arrependimento.

Encontramos por meio da intercessão profética de Amós, a imutabilidade de nosso Deus; ao se colocar diante do povo Amós nos lembra o legislador Moisés (Dt 30.19,20); quando mais uma vez é oferecida ao povo a vida e a morte: a escolha é deles, eles chegaram a uma hora de decisão; sobre isso Carson comenta:

A idéia de “te encontrares com o teu Deus” (4.12) volta-se ao passado, para Êxodo 19.17, quando tanto graça com lei foram combinadas em uma única revelação. A porção que coube ao povo de Amós caberá sempre ao povo de Deus, a de conviver com a opção que fizeram (Dt 27.4-6). Isto foi o que Amós colocou diante deles no v. 12. É como se ele dissesse que eles podem escolher a personalidade com que Deus se apresentará a eles: o arrependimento levará o Senhor da graça soberana a transformar as trevas em manhã; a religião sem arrependimento os deixará expostos ao Soberano Senhor com o todo terror de sua lei eo esmaecer da luz que se transformará na escuridão do juízo.

Amós reconhece um único Deus, como Senhor e Criador, agente em toda a história, governante ou juiz moral de todas as nações, porém para com o povo de Efraim o juízo será criterioso (9.7-10) não uma destruição total. No profetismo identificamos a soberania de Deus, por meios de seus atos poderosos, graça abundante manifestada:

“Porque é ele o que forma os montes, e cria o vento, e declara ao homem qual é o seu pensamento, o que faz da manhã trevas e pisa os altos da terra; Senhor, o Deus dos Exércitos, é o seu nome” (Amós 4.13). Essa afirmação é corroborada nas palavras do profeta messiânico:

Por amor de meu servo Jacó e de Israel, meu eleito, eu a ti te chamarei pelo teu nome; pus-te o teu sobrenome, ainda que não me conhecesses. Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim, não há deus; eu cingirei, ainda que tu me não conheces. Para que se saiba desde o nascer do sol e desde o poente que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; eu faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas essas coisas.

Nota-se que a intercessão era parte integrante do profetismo desde as suas origens perpassando por Moisés, Samuel, sem se esquecer de Abraão e Jeremias (Gn 20.7; Jr. 7.16). A intercessão profética pode ser vista como um ato de graça no ápice do programa de restauração e não como uma condição inicial para a restauração. Amós possivelmente estava com contato com as promessas de Deus ao seu povo, o Senhor da Aliança lhe mostra visões aterrorizadoras, diante disso Amós se apresenta com intercessor pelo povo de Deus, Carson observa comentando o capítulo 7:

Amós não intercede contra o juízo, mas contra a forma particular que vê que este está tomando. (i) V. 1-3, uma praga de gafanhotos de tal modo sem precedentes que a sobrevivência está fora de questão. (ii) V. 4-6, um fogo capaz de devorar até mesmo a terra e o mar. Amós apela contra a destruição total de Jacó, e seu apelo é ouvido.

Ao firmar observações nas profecias de Amós por meio de um viés do profetismo, compreendemos que a graça é a base da preservação o povo do Senhor. Deus em sua soberana livre e amorosa graça utilizou-se desse movimento profético a fim de realizar sua vontade e conduzir seu povo conforme seu plano glorioso de redenção e salvação em Cristo Jesus.  Amós completa o terceiro ciclo de suas mensagens com a afirmação de promessas gloriosas para o futuro. Elas se enquadram em três seções a partir do capitulo 9, com promessas reais, promessas relacionadas à criação e promessas pessoais. Carson entende que em certo sentido, o tabernáculo de Davi caiu quando as tribos do norte recuaram (I Rs 12):

E Amós pode estar olhando para esse passado bem como para o futuro, para a restauração da plena unidade do povo de Deus com a vinda de “Davi” (Ez 34.23; Os 3.4,5; Lc 1.32), Amós pode estar prevendo o fim até mesmo dos restos do tabernáculo de Davi, como se isso já tivesse acontecido. Ou uma vez que caído pode ser traduzido por algo que “está caindo” ou “está prestes a cair”, ele pode ter em mente a deteriorização que prevê em Judá e seu completo colapso. De qualquer forma, é uma visão de cumprimento messiânico.

As palavras finais de Amós colocam um selo divino nas promessas: “diz o Senhor, teu Deus”. Isto é o Deus que vos escolheu, todas as promessas messiânicas – do legítimo rei, da nova criação e do povo redimido - são colocadas sob o mesmo manto de certezas: “Sobre essas coisas o Senhor, teu Deus, já tomou a sua decisão.”

Lucas, o médico amado, em Atos a partir do capitulo 3.18-26 afirma que Jesus é o cumprimento das profecias, destaca-se os versículos 22 e 24:

“Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias.” (Atos 3.22,24).

Diante desses estudos e observações em busca do fio principal do profetismo, pode-se afirmar que seu propósito primordial se vincula a apresentar a graça de Deus, Jesus, o profeta semelhante a Moisés. (Dt.18.15,18) que devia vir ao mundo (João 6.14), o Grande profeta (Lucas 7.16), o poderoso profeta (Lucas 24.19), o profeta reconhecido (João 4.19) e aclamado (João 7.40).  Ressaltamos que a função do profeta é revelar a vontade de Deus e instruir o povo; isso Jesus fez como nenhum outro poderia fazer. O testemunho dos profetas do Antigo Testamento revelava que Messias seria um profeta para ser a luz do mundo, tanta para Israel como para os gentios. (Isaías 42.1 – Romanos 15.8) A semelhança de Moisés, Jesus, o Filho de Deus, proclamou a Palavra de Deus com coragem e veemência (Dt. 18.15,18; Jo 1.45; 4.19,29, At. 3.22,23; 7.37).

Nota-se que no Antigo e Novo Testamento, o profeta era o porta-voz de Deus. Por meio da influência do ministério profético de Moisés, Samuel fundou as escolas de profetas. Entretanto, todos aguardavam o Messias, o profeta de Deus às nações.

Reafirmamos que entre as várias funções dos profetas no Antigo Testamento, destacam-se o ensino da vontade de Deus a povo, a condenação da idolatria e da injustiça social, e o anúncio da vinda do Messias, o maior de todos os profetas. O professor Severino Pedro da Silva destaca sobre Cristo, o profeta:

O ministério profético de Cristo foi o mais proeminente de toda Bíblia. Deus o levantou (At. 7.22); e o ungiu (Lc. 4.18), para este sublime ofício durante seu ministério terreno; e, por extensão, em parte de seu ministério celestial (Lc 23.42,43;24,19). Por essa razão, seu ministério profético é predito em muitas passagens do Antigo Testamento (Dt. 18.18; Is. 42.1-11; 49; 50.4;61). Essas profecias e textos tiveram realmente seu cumprimento na pessoa única de Cristo Jesus, como é expresso Lc 4.18,21 e At. 3.22; 7.37.  Ao mesmo tempo, seu ministério profético foi prefigurado por uma série de profetas do Antigo Testamento, de Moisés a Malaquias. Em seu ministério terreno, Cristo não apenas permitiu que os homens o considerassem um profeta (Lc 7.16; Jo 4.19), mas Ele próprio se apresentou como tal (Lc 4.17-21; 13.33). O procedimento do Messias, seja em palavras seja em ações, trazia a marca de que Ele não era apenas um profeta enviado por Deus, mas o Profeta de Deus. A tarefa profética de Jesus não estava limitada ao tempo de duração de sua vida terrena, como os demais antes dEle, mas por meio do Espírito Santo e de sua vitoriosa e profética Igreja, o seu ministério profético continuou depois da crucificação.

Considerando os aspectos do profetismo podemos considerar que Jesus não era apenas um profeta como Amós ou Joao Batista 0, mas o profeta-Messias que havia de cumprir todas as profecias do Antigo Testamento e “anunciar o ano aceitável do Senhor”. No que tange a intercessão por misericórdia relevante em Amós, em Cristo se vê a supremacia da intercessão por misericórdia; o autor da carta aos hebreus ressalta que Jesus é sumo sacerdote eterno, sumo sacerdote santo e misericordioso bem como sacerdote dos bens futuros (Hb 6.19; 4.15,16; 9.11).

Conclui-se, portanto, esse artigo ao afirmar que o profetismo foi um meio de Deus manifestar sua vontade e desígnios para com o seu povo, através dos profetas do Antigo Testamento, a palavra do Senhor se faz cumprir porque Ele é Soberano, reconhecer a soberania divina é fator primordial para entender o profetismo nos textos de Amós bem como em todos os escritos veterotestamentários. Deus guiou seus profetas até a plenitude dos tempos (Gl 4.4) a fim de apresentar a todos os povos o Deus-homem, sendo plenamente Deus, plenamente Homem, porém uma só pessoa; o cumprimento pleno e cabal da vontade de Deus Pai em seu plano profético e retentivo para a Glória somente de seu eterno, magnífico e gracioso nome.