Teologia e cidadania

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Teologia e cidadania

Quando o tema e o pensamento se encontram sobre a temática da cidadania, não se faz a relação com a teologia, afinal a teologia não tem relação com a cidadania. Correto? Esse texto tem como proposta pensar a teologia e a cidadania para a igreja e também para toda a sociedade. A princípio o texto de Romanos trará provocações, pensamos ser um mandamento divino a submissão e nunca pensamos o que é submissão de fato.

Todo a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e aqueles que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são motivo de terror para as boas obras, mas sim para as más. Portanto, se você não quiser temer a autoridade, pratique o bem, e receberá louvor dela. Pois a autoridade é um ministro de Deus para o seu benefício. Contudo, se você praticar o mal, tema, pois ele não empunha a espada debalde; pois é ministro de Deus e agente da justiça para punir aqueles que praticam o mal. Portanto, é necessário submeter-se não apenas por causa da punição, mas também por dever de consciência. Por esta razão, também é preciso pagar impostos, porque as autoridades são ministros de Deus que se dedicam continuamente a este trabalho. Paguem a cada um o que lhe é devido: imposto a quem imposto, tributo a quem tributo, temor a quem temor, honra a quem honra. A ninguém deveis coisa alguma, senão o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama os outros cumpriu a lei. Com efeito, não adulterarás, não matarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não cobiçarás; e qualquer outro mandamento se resume nesta palavra: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. Portanto, o cumprimento da lei é o amor. E isso digo, conhecendo o tempo, que já é hora de despertarmos do sono, porque a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já passou, e o dia está próximo. Portanto, abandonemos as obras das trevas e vistamo-nos das armas da luz. Andemos como pessoas honestas, evitando orgias e bebedeiras, imoralidade sexual e libertinagem, brigas e invejas. Mas revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não vivam mais para satisfazer os desejos da carne[1]

Para evitar que todas as coisas percam a direção para a desordem e o caos, Deus suscita no quadro geral da sociedade uma ordem provisória chamada ordenação jurídico-política.

Essa ordem não consiste na regeneração do homem. A regeneração só se dá mediante Cristo, trazendo-lhe liberdade em relação ao seu cativeiro moral no pecado. Mas é ela quem promove a ordenação social e a manutenção mínima da ordem, dentro de uma moral relativa mediante a coerção das leis.

Os agentes dessa ordem são, por um lado, a lei moral externa e convencional que guia os indivíduos e, por outro lado, a lei do Estado, eficazmente aplicada pelas instituições governamentais que, para tanto, precisam estar amplamente sujeitas às leis que regem sobre os demais.

Tal ordem é relativa, provisória, mutável e mutante, e está à espera do fim dos tempos, quando então o verdadeiro governo será estabelecido por Deus, após a vitória de Cristo sobre todo principado e poder. Depois do juízo final, a humanidade recuperará plenamente a paz social porque será livremente submissa à ordem de Deus. Contudo, enquanto aguarda-se esse acabamento final, todas as sociedades têm necessidade de uma ordem provisória, que viabilize o que os gregos chamavam de "a arte do viver juntos". E essa ordem é política. A política deve, portanto, buscar em todas as sociedades a ordem que mais se aproxime do bem comum, levando em conta o desenvolvimento moral, espiritual, ético e material dos seus cidadãos nos mais variados períodos da história humana.

A pressuposição embutida “vós sois o sal da terra e vós sois a luz do mundo”[2], André Chouraqui menciona que:


Marcos afirma, como Mateus em outro contexto, que o sal é louco, mas que ele pode tornar-se insípido, sem sabor, o que, evidentemente, jamais se viu. Há, entretanto, uma associação de idéias entre a oferenda eu se deve ser salgada e a necessidade, para os adeptos, de se manterem, digamos, “salgados”. Esse sal, que eles terão em si próprio, será identificado por viverem em paz uns com os outros, pois o pacto do sal (Núm. 18.19; 2Cr. 13.5) é o sinal de uma aliança na paz. Na verdade, fala-se de sal, mas pensa-se nos homens, que devem torna-se o sal da terra.[3]

Deveria ser que quanto mais fiéis os cristãos e mais numerosos no meio de uma sociedade, melhor seria esse convívio em sociedade. Inversamente, quanto menos os cristãos são à semelhança de Cristo, menos de conformidade com o desígnio de Deus será o papel daquilo que é chamado de igreja.

Vemos que a presença real do corpo de Cristo é indispensável para a vida em sociedade em todas as suas dimensões. Ela é o fermento regenerador da vida social, política e econômica. E se a igreja é morta, se ela não chega a ser a comunidade unida pelo amor dos membros do corpo de Cristo, se sua presença não imprime à sociedade o impulso de sua própria e constante regeneração pela Palavra de Deus, então ela mesma participa da desordem da sociedade.

O Estado, cujo papel laico é manter pelas leis, pelas instituições e pela coerção a ordem política, não dispõe de outra garantia contra sua própria corrupção a não ser a “consciência da igreja”. Por isso essa igreja não chamar constantemente o Estado à sua função, ela torna-se conivente com a degradação social. O Estado por si mesmo não conhece a ordem divina. Cabe à igreja, sem qualquer pretensão de convertê-lo ou doutriná-lo, dar-lhe testemunho dessa ordem. Daí ela ter que ter olhos abertos, coração justo, alma sensível, procedimento coerente, visão social e política justas, atitude construtiva e coragem de participar da discussão dos grandes temas da sociedade.

Martin Luther King menciona que:

Todo homem tem de decidir se caminhará à lua do altruísmo criativo ou na escuridão do egoísmo destrutivo. Este é o julgamento a fazer. A questão mais persistente e urgente da vida é: o que você está fazendo pelos outros?[4]

A omissão da igreja quanto a participar da vida pública como fator crítico, construtivo e sensibilizador, é o que cria espaços para os regimes autoritários e os governos corruptos. Que não sejamos nada além, nem aquém daquilo para o qual Cristo Jesus nos designou. Ele é a nossa mensagem e nossa prática. Ele é o evangelho, as boas novas, nesse mundo decadente e desorientado. Nesse mundo que tem sede de Jesus. Não do Jesus evangélico, do templo, da religião, dos dogmas, das tradições, mas do Jesus encarnado em nós a serviço do próximo. Desse Jesus cujo amor constrange a todos. Desse Jesus que faz de nós sal da terra e luz do mundo.

Crendo que não será aqui o nosso descanso, mas contribuiremos para o descanso dos cansados não fazendo coro com as injustiças desse mundo.

Numa manhã de abril de 1945, o pastor Boenhoeffer foi enforcado, sob o testemunho de um médico chocado com sua serenidade frente à própria morte. Ele conta que o viu orando ajoelhado com profunda devoção. “Naquele lugar de execução, ele novamente Fez uma pequena oração e então subiu os degraus para a forca; corajoso e sereno. Nos quase cinquenta anos em que trabalhei como médico, creio que jamais vi um homem morrer tão completamente submisso à vontade de Deus”. Três semanas depois, Hitler se suicidaria e a guerra na Europa chegaria ao fim.

Em se tratando, todavia, de um regime democrático, eu não tenho a menor dúvida quanto a dizer que Paulo não hesitaria em usar da plenitude de seus direitos civis e constitucionais a fim de reivindicar que a justiça fosse feita em todos os níveis e escalões da vida e do exercício do poder na nação para a promoção do bem e sempre que aqueles que “são incumbidos” de o fazerem não o fizerem. Isso inclui, a Presidência da República. Já dizia Santo Agostinho que “sem justiça, que são os reinos senão grandes bandos de ladrões? ”[5]

Neste ponto, a reflexão toma outra forma que gostaria de deixar explicitado aos que veem Romanos 13 como um texto que induz o cristão à subserviência em qualquer circunstância. Em um regime democrático, onde a Constituição é o paradigma de autoridade, desobedece ao texto Romanos 13 não quando se pede o impeachment de um Presidente da República envolvido com as mais sórdidas expressões de corrupção e abuso de poder, mas quando se apoia de forma irrestrita a permanência de tal pessoa no poder. Nessa mesma sociedade, desobedece-se a Romanos 13 quando se apoia a ditaduras e a tiranias.

Romanos 13, no mundo contemporâneo, só pode ser obedecido quando nossa cidadania respeita a Constituição até onde nossa Constituição não pedir de nós uma obediência que desobedeça a bondade, a misericórdia, a verdade, ou seja, a Constituição não pode se chocar com o bem que a obediência e à bondade de Jesus produz. Não é uma obediência religiosa, de fruição subjetiva, apenas. Nem mesmo a fé pode se arrogar a fazer o mal em nome do bem. O mal é o mal. E não se requer nominar-se o bem com nenhum adjetivo, inclusive o de “cristão”. Jesus fez o bem e ponto final. O bem não tem religião, nem ideologia.

Roy H. May menciona que:

[...] a ética preocupa-se com a comunidade, com a conduta que melhor contribua para a construção responsável da convivência humana. No fundo, a dimensão comunitária é a preocupação central da ética cristã e, sem dúvida alguma, a questão mais urgente dos nossos tempos, como viver juntos.[6]

Se olharmos para Jesus, veremos que ele fez o que fez à revelia da anuência do status quo. Jesus não pediu licença para fazer o bem. Não consultou qualquer cartilha ou protocolos de bons modos. Nem mesmo a lei lhe era um parâmetro para isso. Ele curou no sábado. Considerando que fé e governo civil se misturavam, considerando que templo era uma entidade de poder pública, Jesus foi um flagrante desobediente civil no tocante a fazer o bem ainda que para isso tivesse que contrariar esse status. Nunca houve da parte dele qualquer conflito nesse particular.

Preste atenção: em um regime democrático, onde a autoridade máxima é a Constituição, desobedece-se a Romanos 13 não quando se pede o impeachment de um presidente da República envolvido com as mais sórdidas expressões de corrupção e abuso de poder, mas sim quando se dá apoio a tal mandatário, em detrimento da obediência exemplar. E mais, nessa mesma sociedade, desobedece-se a Romanos 13 quando se dá apoio a ditaduras e a tiranias. Romanos 13, no mundo moderno, só pode ser obedecido quando nossa cidadania respeita a Constituição até quando a Constituição não pedir de nós uma obediência que se choque com a obediência que eu e você devemos ao Senhor Jesus e seu evangelho.

Martin Luther King menciona que:

Chega uma hora em que um homem moral não pode obedecer a uma lei que sua consciência lhe diz ser injusta. E o importante é que, ao fazer isso, ele aceite de bom grado a punição. Porque caso se recuse a aceitar a punição, tornar-se-á um inconsequente, tornar-se-á um anarquista. Houve, em todas as épocas e gerações, indivíduos propensos a dizer: Serei obediente a uma lei superior. É importante ver que há momentos em que uma lei feita pelo homem está em desarmonia com a lei moral do universo.[7]

Assim é que nós podemos dizer que o Estado tem o direito de exigir obediência somente dentro dos limites da lei e enquanto ele mesmo a ela (a lei) está sujeito. Deve-se dizer, portanto que o cristão não apenas pode, mas deve resistir ao Estado quando ele se colocar na posição absoluta ou quando nele se “assentar” alguém que pretenda estar acima da lei de Deus e da lei dos homens.

Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (I Tem 2:1-4).

Esse é mais um dos textos neotestamentários que têm sido usados com a finalidade de manter os cristãos em estado de permanente subserviência para com qualquer tipo de autoridade ou regime. Isso porque se alega que se Deus manda orar pelas autoridades, então é porque não se deve jamais entendê-los como inimigas de Deus.

Como já vimos, a autoridade, seja ela o rei, seja o presidente, seja o primeiro ministro, sejam juízes ou magistrados, todos eles foram instituídos por Deus visando a gestão dos interesses públicos e ordenação da sociedade, para que a sociedade não mergulhe na não governabilidade. Assim é que nós podemos dizer com bastante consciência que Deus repudia com igual força os extremos da ação política: ele abomina o absolutismo de um governo tirano, tanto quanto repudia a anarquia irreverente e inviabilizadora do projeto de uma sociedade onde haja ordem e justiça.

A recomendação de Paulo no sentido de que se ore pelas autoridades está longe de ser na perspectiva da alienação, ou seja, “deixa estar para ver como é que fica”. E mais, tal compromisso intercessório não visava esvaziar os cristãos de seu conteúdo moral e ético em sua apreciação do mundo e da sociedade.

De fato, o que Paulo estava fazendo era estimular aos cristãos no sentido de que exercessem seu papel sacerdotal diante desse mundo alienado de Deus. É por esta razão que Paulo diz que “isso é bom e aceitável diante de Deus nosso Salvador”.

Reis e autoridades pertencem à ordem social de Deus, mas não à ordem da salvação. Eles são apenas instrumentos de Deus, na sua graça recebem – como qualquer um de nós, seus favores, e são por Ele estabelecidos para a governança do mundo. Ainda a Timóteo, Paulo está dizendo aos cristãos que orem pelas autoridades porque somente eles podem orar por elas.[8]

Incrédulos não oram. “Gente boa de Deus” deve ter na oração uma das partes mais importantes do exercício de sua cidadania nesta terra. Orar pela sociedade é uma das mais profundas manifestações de engajamento social que a igreja pode assumir com relação ao poder. Luther King menciona que:

Deixem-me dizer agora que a próxima coisa com que devemos nos preocupar se quisermos ter paz na terra e boa vontade entre os homens é a afirmação não violenta da sacralidade de toda vida humana. Todo homem é alguém porque é um filho de Deus.[9]

As razões de tais “súplicas, orações, intercessões e ações de graça” são duas: “para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito”; e ainda, porque Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. Ora, ambas as razões para a oração pelas autoridades pressupõem aspectos negativos com relação às autoridades. No primeiro caso, Paulo afirma a tendência terrível que habita os governos humanos no sentido de se afastarem dos ideais políticos de produzir uma sociedade marcada por “piedade e respeito”. Em outras palavras, Paulo está dizendo que se não orarmos, há uma tendência intrínseca no coração do poder que o inclina os poderosos à corrupção. Não se deve orar pela autoridade para que ela – não importando sua ética e governo – seja mantida no poder. Luther King contribui em um momento impar da sociedade americana em relação a guerras e aos discursos de paz:

Quando homens maus conspiram, homens bons devem planejar; quando homens maus incendeiam e bombardeiam, homens bons devem construir e unir. Quando homens maus gritam feias palavras de ódio, homens bons devem se dedicar às glórias do amor. Onde homens maus procurariam perpetuar um status quo injusto, homens bons devem procurar gerar uma ordem real de justiça.[10]

Martin Luther King apresenta o olhar de um homem, pastor que percebe que os maus não deixaram de planejar e buscar seus próprios interesses, o que ele menciona é que os homens bons não podem ficar estáticos diante daquilo que se torna inevitável.

Luther King em sua época se deparava com um país dividido em questões raciais, violência e muitas questões de interesse financeiro por trás de cada ação a favor e contra os direitos humanos.

As orações têm objetividade ética e clamam diante de Deus no sentido de que a justiça seja a marca dos projetos políticos dos que governam. Quando as autoridades de que deveriam produzir as condições para que a sociedade se organize em “respeito e piedade” assumem posturas que apontam em outra direção, então a oração dos santos deve ser como a de Elias, que ora para que o “céu se feche”, ou como dos que clamam “debaixo do altar” dizendo “até quando... não vingas o nosso sangue interrogação O segundo aspecto embutido nas razões para se orar pela autoridade é a perdição espiritual da autoridade. Ora, Paulo sabia que os cristãos viveriam quase sempre em contextos pagãos e que, na maioria das vezes, suas autoridades não seriam pessoas rendidas a Cristo. Esse é o grande paradoxo: gente “salva” sujeita a autoridades “não salvas”. “Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus...” é por isso também que devemos orar por nossas autoridades. Estamos no mesmo barco da existencialidade sob o signo da pecaminosidade, a diferença é que eles exercem governo sobre nós, então o que fazem ou deixam de fazer dizem respeito a nós.

Talvez seja em função de tal relatividade que Paulo não usa uma única palavra para definir que tipo de prece os cristãos deveriam fazer pelas autoridades. Ao contrário, ele diz que poderiam ser “súplicas, orações, intercessões ou ações de graça”. Aqui há atitudes espirituais diferentes no exercício da espiritualidade que fala com Deus acerca da autoridade. Pode-se suplicar a seu favor. Pode-se orar regularmente por sua vida. Pode-se interceder por seus objetivos ou contra suas ações equivocadas. E, ainda, pode-se oferecer ações de graça pelos acertos e boas providências oriundas de governos e governantes justos e generosos.

Em minha maneira de ver, essas são as implicações de uma leitura simples do texto. Também é minha convicção pessoal que quando a igreja (igreja corpo de Cristo, não igreja instituição) assume tal postura, seu culto a Deus é muito mais racional e consciente. E como resultado disso, sua presença na sociedade é muito mais efetiva e abençoadora.

 Os sinais desse poder político diabólico são basicamente os seguintes:

1. Arrogância e blasfêmias: o Apocalipse repete de maneira quase cansativa que a Besta (poder político), é arrogante e blasfema. Ou seja, todo poder político que se construa com base na ufania auto glorificante, bem como em valores que agridem o evangelho, estão de alguma forma, em maior ou menor grau, antecipando aquele sistema político que será o cumprimento pleno da presença da Besta no mundo.

“E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia” (Apocalipse 13:1)
“E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu” (Apocalipse 13:6)

2. Perseguição aos cristãos: aqui, outra vez, as repetições são frequentes. O governo da Besta será hostil contra a fé. No entanto, toda hostilidade à fé prenuncia este poder ainda por manifestar-se em plenitude.

“E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu” (Apocalipse 13:6).
“E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação” (Apocalipse 13:7).

3. Globalização política: não houve um único poder político que tenha se universalizado e que não tenha se tornado profundamente maligno. Em toda a história humana foi e nos nossos dias ainda é assim. O governo da Besta vai se caracterizar por uma total globalização de sua autoridade política sobre as nações da terra.

“E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação” (Apocalipse 13:7).

4. Absolutização Ideológica: o governo da Besta será fortemente marcado pelo culto ao Estado. Assim como Roma era cidade-panteão e nela o Estado era cultuado na pessoa do Imperador, assim também o governo da Besta se fará cultuar. No entanto, há algo a ser dito: as formas de culto ao Estado variam de sociedade para sociedade e de geração para geração. No entanto, a marca mais distintiva deste culto é o curvar subserviente à ideologia do Estado. Cristãos, portanto, deveriam sempre ter todo o cuidado nas suas adesões ideológicas. E a razões é simples: todos nós corremos o risco de estarmos nos curvando ante um poder cujas origens não nasceram em Deus. Esta será sempre a grande sedução da Besta: a sedução ideológica (v. 8). Neste aspecto, João diz que somente a compreensão de que nossa lealdade histórica é e pode salvar os cristãos de caírem escravos do fascínio da besta.

“E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8).

5. Fé a serviço do Estado: neste ponto nós somos apresentados a um dos maiores perigos aos quais a fé está sujeita: o perigo de existir para legitimar regimes tirânicos, iníquos e malignos. Esse tema é trazido para a nossa discussão com a chegada de mais um personagem para o cenário apocalíptico: o falso profeta.

“Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homens. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis” (Ap 13:11-18).

A igreja é constituída dentro desse contexto, em meio a essa sociedade, e a partir dessa mistura se constitui. Por um lado, estender a mão a ajudar o próximo, a liberdade sempre foi uma coisa cara. A história é um testemunho idôneo de que a liberdade raramente é conquistada sem sacrifício e abnegação.

A compreensão e qualidade de uma sociedade se demonstram em suas formas de participação, na percepção de sentido e das oportunidades no transcorrer de fenômeno participativo autêntico. Nossa sociedade se estrutura e identifica pela obstrução, muitas vezes obstinada, ou pelo empobrecimento e esvazio do discurso, tornando direitos transcritos em letras mortas.

Não temos desenvolvido entre nós o compromisso normal de se construir e organizar na forma democrática em defesa dos direitos. De modo geral, achamos que o Estado tem a tarefa de nos defender. O trabalhador lesado, o humilde que não tem acesso à justiça, o microempresário que é coibido de produzir e comercializar, o pequeno produtor rural que é expulso da terra, muitas vezes sequer concebe a ideia de que organizar-se é um pré-requisito de acesso para a conquista daquilo que lhes é negado.

Frequentemente, surge o mal-estar inoportuno de quem imagina estar violando as boas maneiras, ao reclamar seus direitos. Esta subserviência, que tem algum lastro de traço cultural, mas, é, sobretudo, o peso do legado histórico, que alimenta através dos séculos, politicas interventoras, pela presença avassaladora de lideranças centralistas, pela arrogância de quem tem dinheiro e poder.

Nesse sentido a igreja ainda precisa perceber o quanto se torna necessário subjugar o dinheiro e deixá-lo em seu devido lugar. A atitude permanente de cautela e subjugação do dinheiro é um dos temas centrais para Jesus. Em Mateus 19. 23-29 introduz o perigo da riqueza. Jesus faz advertências veementes sobre como lidar com os recursos concretos e econômicos.

Os ricos, cuja espiritualidade se caracteriza apenas pelas suas frequentes orações e consagrações de seus bens a Deus, a cada encontro na congregação, no momento de gratidão, ou cujas riquezas são oferecidas a Deus apenas nas perspectivas de um agradecimento por nova conquista, ainda a muitos irmãos e congregações que não aprenderam a verdadeira atitude espiritual para com as riquezas.

Paulo diz, em 1 Timóteo 6:9, 10, 17-18 que as riquezas, antes de serem uma bênção, são um perigo. Elas são um perigo que pode transformar-se numa bênção. Isso acontece se o rico é generoso, se ele compartilha, se seus atos são em busca do encontro com o outro, se usa a sua riqueza para promover o bem, se é rico, sobretudo de boas-obras.

E, como o princípio de II Coríntios 8:6, se ele está até” in extremis”, disposto a obedecer ao critério de relação altruística com a riqueza, que foi encarnado por nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo biliardário, fez-se pobre por amor de nós, para que, pela sua pobreza, nos tornássemos ricos.

Nesse sentido a concepção sobre a paz, que compreende em atitudes, trazendo sabor através do ser. A paz só pode ser paz, a partir de algumas concepções que denotam e expressa, a importância e consequência da mesma para aquele que é o agente transmissor.

O autor Kjell Nordstokke vai ao longo de seu livro construindo o pensamento de que a Igreja vive movida pela força vindoura do reino de Deus, sua concepção apresenta que isso só pode ser compreendido por revelação.

Compreendendo a revelação de Deus ao homem, percebemos outras manifestações da sua ação através da sociedade e pela sociedade, o serviço da igreja a pessoas está incluído no serviço do Senhor. A Igreja é em todas as suas ações, comunhão, a manifestação e o anuncio da vinda de Jesus Cristo como salvação para a sociedade.


[1] BÍBLIA de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida, Rio de Janeiro - RJ: CPAD, 1996, Romanos 13:1-14.


[2] BÍBLIA de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida, Rio de Janeiro - RJ: CPAD, 1996, Marcos 9:50.


[3] A Bíblia: Marcos (o evangelho segundo Marcos); tradução para o francês e comentários de André Chouraqui, tradução: Leila Duarte, revisão geral: Jayme Salomão, Monique Balbuena e André Cardoso, Rio de Janeiro, Imago Ed., 1996.


[4] KING Coretta Scott (org.). KING, Martin Luther (1929-1968). As palavras de Martin Luther King. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.


[5] BRANCO, Luís Alexandre Ribeiro. Justiça, Uma Perspectiva Bíblica. 2ª Edição, Lisboa Portugal, edições Escola da Bíblia, 2009.


[6]MAY, Roy H. Discernimento moral: uma introdução à ética cristã. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2008, p.21..


[7] KING Coretta Scott (org.). KING, Martin Luther (1929-1968). As palavras de Martin Luther King: Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 47.


[8] Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade. BÍBLIA de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida, Rio de Janeiro - RJ: CPAD, 1996, 1 Timóteo 2:2.


[9] KING Coretta Scott (org.). KING, Martin Luther (1929-1968). As palavras de Martin Luther King: Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 89.


[10] KING, 2009, p. 55.